Parecia
um dia como qualquer outro, se não fosse doer no fim. Acho que a gente nunca
sabe do último dia, o último dia em que vamos caminhar por aquela rua tão
familiar, o último dia em que iremos comer no restaurante de sempre, ou fazer
compras naquela botique de paredes cor de rosa, que parecem acalmar a gente. O
último dia em que tudo será como sempre foi, porque antes o mundo inteiro podia
estar um caos, tudo em nossa volta podia estar um caos, a gente podia estar um
caos, mas bastava nossas vozes se encontrarem em algum telefonema que todos os
furacões e ventanias e tornados e vulcões cessavam, porque nós nos entendíamos como ninguém, como ninguém mais no
mundo se entendia, como ninguém mais no mundo pudesse entender, éramos um para
o outro a fuga de toda fatigante realidade, perto de nós tudo ficava tranquilo,
e ninguém tinha a chave da nossa porta.
Eu
queria saber o que mudou? Quando foi que a gente começou a ter brigas bobas e a
permitir que os outros entrassem pela nossa porta? Qual foi o último dia que
nos entendemos como ninguém mais no mundo se entende? Qual foi o último dia que
nossas vozes se encontraram e cessaram os tornados e vulcões? Qual foi o último
dia? Se eu tivesse previsto que seria assim, talvez eu tivesse aproveitado melhor
aquele dia, talvez recordasse o clima ou atentasse para aqueles detalhes bobos
e significantes. Talvez eu soubesse se foi uma quarta ou um sábado, talvez eu o
tivesse prolongado.
A
vida acontece enquanto o tempo passa, e mudamos, todos mudamos. Não falo das
linhas que surgem na face, nem dos quilos a mais ou a menos, nem de calvice ou
flacidez, eu falo de conhecimento, de auto conhecimento, de virtudes e
caminhos, de sonhos e concepções. Não éramos a dupla perfeita, nem mesmo os
inseparáveis como alguns sempre gostaram de falar, éramos a dupla imperfeita e
sabíamos que todo espaço que precisávamos nos dar era entre o telefonema da
tarde e o da noite, e tanto fazia que pra todos esse espaço fosse pouco, pra
nós era o tempo certo.
Eu
falava menos, você mais, não sei se porque eu precisava menos ou aconteciam
menos coisas na minha vida do que na tua, ou se éramos assim e pronto, mas do
pouco que eu falava eu sabia que só você podia ouvir com os ouvidos de soneto,
e isso me bastava. Você dava detalhes do seu dia, eu nem lembrava há quanto
tempo eu estava a par de todos os seus conflitos, as vezes eu quase confundia a
tua vida com a minha, depois passava, chegavam as minhas contas, os meus
problemas, os meus sentimentos, e eu lembrava de mim.
Eu não sei dizer qual foi último dia em que eu tive certeza que sempre
ia escutar a tua voz, tão familiar. Não sei qual foi o último dia em que você
teve certeza que não importava o quão cruel o mundo fosse, ia ter uma “pequena”
do outro lado da linha pra te ouvir e torcer por você. E não sei o que mudou
além de tudo a nossa volta, mas não era pra ser assim. As experiencias foram
cruéis comigo e sei, não parece, mas há tanto tempo já deixei de acreditar em
principes e fadas e finais felizes e pra sempre. Mas mesmo não crendo em nada
disso, eu acreditava que a gente era pra sempre, mesmo que nada mais no mundo
fosse, a gente era. Acho que eu ainda acredito, acho que nisso sempre vou crer.
Que droga! Qual foi o último dia em que ser nós era simples como sentar a
beira-mar no dia 31 de um mês qualquer e ver o pôr do Sol? Quando é que vamos
voltar a fazer isso? Da sua amiga, do seu inconsciente... Tiara Sousa
Um comentário:
Oi, vc foi taggeada no meu blog! Dá uma olhada!
https://itgeekgirls.wordpress.com/2014/11/22/tag-liebster-award/
Postar um comentário