segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A saga dos sentimentos

Existe a saga dos sentimentos perdidos, o único tesouro que poucos querem encontrar, por puro domínio da incerteza ou pela vivacidade que a maioria dos homens só possuíram até a adolescência, ritmo infeliz, este, que embora muitos tenham ouvido falar, poucos, bem poucos resistiram. Não é real quando lemos um conto de fadas, mas é real quando assistimos a um reallity show, se tentarmos ser menos críticos e analisar com a vivacidade perdida, veremos que tanto no conto de fadas quanto no reallity show ocorrem histórias de amor onde acontecem muitos sofrimentos, tudo bem, no conto de fadas o final é sempre feliz e de beleza sem igual, mas é aí, exatamente aí, que encontramos a resposta para o que Camões não conseguiu explicar e o que Shakeaspeare mesmo sem querer confundiu com o trágico, sim o fulgás, a raiva, o medo, o inverso, o feliz, o triste, o fantasioso, este mesmo, o amor, dizem que por ele o incorruptível se corrompe e o perdido se encontra.
Como podemos nós, enquanto humanos, sendo seres frágeis interna e externamente, passar horas enfrente a uma televisão assistindo a reallity shows, novelas, filmes, esperando encontrar nos mesmos o que vivemos mal ou sequer vivemos, será isto a ignorância de que falam os ditos intelectuais ou será isto fragilidade e medo humanos, tão normal e dolorosa quanto uma cólica menstrual e será que a verdadeira ignorância é dos intelectualóides que passam a vida se segurando pra não chorar num final de novela que por acaso em casa acabaram por assistir. Se estas são indagações ou informações descobriremos no cotidiano, o fato é que o planeta Terra continua a fazer seus movimentos de translação e rotação, que os trágicos amores continuam acontecendo, que os seres humanos continuam com medo de reencontrar sentimentos que se perderam e a mídia continua a alcançar picos de audiência com as nossas decepções.


Tiara Sousa

sábado, 10 de novembro de 2007

Se eu sonhasse definir Chico Buarque de Holanda


“O primeiro me chegou como quem vem do florista...
O segundo me chegou como quem chega do bar...
O terceiro me chegou como quem chega do nada...”
(trechos de Teresinha de Chico Buarque)
Chico Buarque de Holanda não chegou. Mas fez chegar sua voz, sua poesia, suas canções, sua vivência, sua atitude, sua dor, seu amor, seus defeitos, sua simplicidade, sua genialidade.
“O que será, que será? Que vive nas idéias desses amantes; Que cantam os poetas mais delirantes; Que juram os profetas embriagados; Que está na romaria dos mutilados; Que está na fantasia dos infelizes; Que está no dia a dia das meretrizes; No plano dos bandidos dos desvalidos; Em todos os sentidos...”(trecho de O que será ? de Chico Buarque)
Idolatria(conceito): adoração dos ídolos, ação de prestar a certas entidades as honras próprias da divindade,amor, dedicação excessiva, adoração cega.
Talvez... Sim! Assumidamente meu ídolo.
Ainda que pudesse falar com ele, nada diria, ídolos não precisam ouvir, mas tem a direito de ser ouvidos.
Afinal como falar de saudade, a quem falou: “a saudade é o revés de um parto, a saudade é olhar o quarto de um filho que já morreu”; O que falarei de amor a quem amou a ponto: “Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente, preciso conduzir um tempo de amar, te amando devagar e urgentemente” O que dizer da paixão a ele que já se apaixonou assim tanto: “Mangueira, estou aqui na plataforma da estação 1ª, o povo veio me chamar, de terno branco e chapéu de palha, vou apresentar a minha nova parceira, mandei subir o piano pra mangueira”; Como explicar meu povo a quem explicou tão brilhante e simplesmente: “É gente humilde com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar, pela varanda, flores tristes e baldias, como a alegria que não tem onde encostar”.
Como me definir mulher a um homem que tão feminino e infinitamente expôs: Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim; Por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema, um botequim.
Como sentir a boemia a quem sentiu exatamente: “Chega a noite, mais um copo, eu alegre ma non troppo, sei que vai querer cantar, na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo pra você rememorar.”
Ao gênio das palavras, de uma decência indecente, eu não tenho nada a dizer.
Se eu sonhasse definir Chico Buarque de Holanda, definiria a poesia, no seu mais simples escândalo, no sentido mais abominável da dor, no mais estranho conceito do infinito.
Ele é humano, eu sei, mas vicia, compromete e não se explica, pelo simples motivo de explicar a tudo e todos tão popularmente.
Gênio! Gênio! Gênio!
Que as crianças do Mundo tenham a oportunidade de crescer ouvindo ele cantar nossas vidas e encantar nossos desencantos.
“Cantei, canteiJamais cantei tão lindo assimE os homens lá pedindo bisBêbados e febrisA se rasgar por mim”
(trecho de Bastidores de Chico Buarque)

Tiara Sousa