domingo, 17 de junho de 2012

Brasil Negro


Houve um tempo em que em diversos países, negros eram negociados como mercadorias, tratados como animais e escravizados como seres não pensantes; Só o Brasil trouxe da África 4 milhões de escravos, com base nesses números pode-se afirmar que o Brasil foi fundado e teve o seu desenvolvimento e a sua economia baseados no trabalho escravo, esse tempo foi o da escravidão. Protegidos por uma brutal legislação negra que permitia castigos, penas e maus tratos ao escravo, os fazendeiros e donos de engenho abusavam do direito de maltratar o negro, sendo eles chicoteados, presos a correntes de ferro, obrigados a usar um colar de ferro, entre outras brutalidades. Embora nessa época mais da metade da população fosse de escravos, o Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir completamente a escravatura. Esse tempo passou, é o que dizem os livros de história, os programas de TV, os discursos políticos. Ecoam por este país miscigenado os sons dos cavacos e dos tamborins configurando o samba, o gingado dos corpos cansados e o som dos berimbaus e dos pandeiros sofridos configuram a capoeira e a bola nos pés une-se a esperança de um futuro digno configurando o futebol, e dos meios de comunicação isso soa tão lindo, tão democrático, que gente de todo lugar do mundo fantasia um Brasil Negro. Mas se esse tempo passou, por que nós negros ainda sentimos a dor das chicotadas nas piadas preconceituosas, nos dedos apontando para nossos cabelos crespos, nos padrões discriminatórios de beleza que excluem nossos traços faciais, nos olhares que relacionam nossa bela pele escura com um caráter ruim que não temos; Porque ainda nos sentimos presos a correntes de ferro que nos obrigam a lutar diariamente para provar que somos capazes, por que ainda há tanta intolerância e estupidez?
Atualmente o Brasil tem a maior população negra fora da África e a segunda maior do planeta, baseada nisso não entendo como tal sociedade privilegia clara e abertamente os brancos, um estudo mostrou que um trabalhador de fábrica branco ganha cerca de 75% mais do que um negro que realiza o mesmo serviço, outro dado obtido foi o de que para cada ano escolar cursado, brancos ganham 3,5% a mais enquanto mulatos ganham 2,3% e negros apenas 2,2%.
Então alguém se puder explica “que país é esse”, que lucra cotidianamente com a cultura negra e não permite que esses lucros cheguem aos negros, alguém se puder explica o que a melanina do nosso sangue interfere em nossa inteligência, capacidade e moralidade, alguém se puder explica qual a lógica usada para explicar o fato de que deve-se sentir vergonha de ter antepassados que foram escravizados e não deve-se sentir vergonha de antepassados que escravizaram, alguém se puder explica para o mundo a fome, a miséria, a submissão, a falta de oportunidades as quais sofrem milhões de negros nesse “Brasil Negro”.
Finalizo esse texto com as reivindicações que escravos fugitivos da Fazenda Santana, em Ilhéus, na Bahia deixaram escritas em 1789: "Meu senhor, não queremos guerra, queremos paz...Queremos permissão para trabalhar nas nossas roças nas sextas e no Sábado e no Domingo até brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos impeça e nem seja preciso licença." Diante de tais palavras, alguém se puder explica por que passados 223 anos dessas escritas e 124 anos do fim da escravatura no Brasil essas reivindicações ainda fazem tanto sentido? Tiara Sousa







terça-feira, 5 de junho de 2012

Entre paixões e ciências


Quem nunca se apaixonou, nunca perdeu o amor próprio, cutucou as feridas, conheceu a loucura, não sabe dos motivos das ruas cheias de coisa alguma, dos corações vazios de dias de sol. Toda paixão é insana, é sofrida e precipitada, porém toda paixão é nenhuma, nada, qualquer coisa familiar, descritível, explicável. Dizem que apaixonar-se é como perder os sentidos, humildemente discordo, a paixão é ter todos os sentidos ativados e entrelaçados, e se pensa com o corpo, se sente com a mente, se fere com a ausência, se entorpece com a proximidade, se toca com os olhos, sobretudo se permite, se consente, se consome.
Recentes pesquisas cientificas afirmam que a duração da paixão varia entre alguns meses até 2 ou 3 anos, que há um elemento químico chamado neurotrofina, que provoca o desejo e que com o passar do tempo a quantidade dessa substância diminui. Não sei ao certo sobre os argumentos científicos, não estudei sobre essa tal substancia e ainda não vivi o suficiente pra dizer o que passa e o que fica com o tempo, mas creio que sentimentos são intensos demais pra serem medidos com elementos químicos, ciências exatas, conhecimento frio. Prefiro acreditar na química que não se explica, na atração que não respeita a mente, no olhar que procura o outro e provoca sorrisos, nos corpos que envelhecem juntos, nos corações acelerados e sem prazo pra acalmar.
Com todo respeito aos cientistas, estudiosos, curiosos, entre outros, há doenças sem cura, remédios ineficazes, paralisias, cegueira, vícios.  Portanto parem de assombrar as ilusões das pessoas, nesse mundo já tem dores demais, parem de classificar nossas sensações, desejos, preferências. Não preciso saber porque o sol nasce, a lua aparece, as folhas balançam ao vento, os pássaros cantam, prefiro ver essas belezas e ouvir esses sons sem tabelas e artigos científicos do lado. Principalmente não quero saber o porque da paixão, ou se vai durar um dia, um ano, a vida inteira, enquanto sentimos é para sempre, é cor de rosa, é ébrio, é forte e pra que tentar explicar, pra que dizer que o que faz um apaixonado sentir-se assim são diversas substâncias cerebrais liberadas, pra que dar nome as oscilações de humor, isso não vai mudar o que sentimos.
Prefiro dormir pensando que entre guerras e egoísmo, muitas pessoas no mundo poderão sentir-se assim e que entre estas, algumas, talvez sintam-se assim até os últimos dias de suas vidas. Apenas por esse motivo entre paixões e ciências, ainda prefiro as paixões. Tiara Sousa