domingo, 9 de janeiro de 2011

Dias de frio

Não dá vontade de sair da cama nesses dias incomuns, nem há lareiras em minha casa, nem edredons, só há esse gosto doce das lembranças e a vontade de deixar para mudar o mundo amanhã, com o dia mais aquecido. Os dias de frio costumam ser melancólicos, e solitários, dá até pra sentir saudade do que ainda nem se viveu e talvez não viva. É no frio que a percepção de que o tempo passou fica mais forte, mais triste e mais bela. Olhamos no espelho e não vemos nada além de uma face que o tempo modificou, e se percebe que a beleza ainda está ali, porém as dores nunca voltarão a ter o mesmo efeito. A luz do dia, entrando pelas janelas chega até a ser poética, a chuva ou a prenuncia dela tem dessas coisas, nos faz lembrar dos beijos lindos e românticos, dos sorrisos inocentes, do tempo em que a boêmia não combinava com a perda e os corações acreditavam em contos de fada. Para os adultos um dia de frio é saudade e esperança, parece que antes do calor voltar o príncipe encantado vai aparecer, as canções belas vão fazer chorar, os namorados nas praças vão ser notícia de TV e vai cair do céu junto com a chuva ou com o vento frio os sonhos insuperáveis e isso tudo vai acontecer enquanto você dorme ou ler um livro deitado na cama cheia de lembranças de um amor que não está mais ali. O frio vai passar, talvez naquele mesmo dia, talvez em outro, mas vai passar. E o que permanece é a saudade da saudade, a vontade da vontade, a esperança da esperança de um dia de frio possibilitar um século de calor.

Tiara Sousa