terça-feira, 26 de janeiro de 2016

BALZAQUIANA ou QUE COR É MESMO MAGENTA?

Tenho algumas promessas a cumprir, coisas tolas como beber mais água, ser mais prática, experimentar novos sabores, viajar mais, chorar de vez em quando. É diferente agora. Dez anos antes eu esbarraria numa rosa vermelha qualquer, desabaria sobre ela todos os estragos do meu peito jovem até que ela ficasse verde, azul ou muito provavelmente magenta, ainda que eu não soubesse que cor era mesmo magenta. Agora não. Agora eu dirijo meu carro esperando que alguma blitz me pare e algum conhecido apareça e me pergunte como é que estou, só para eu responder que mesmo estando tudo uma merda aqui fora, eu nunca estive tão bem aqui dentro.
É estranho, por vezes me sinto com sessenta anos, torcendo pra chegar em casa e deitar na minha cama e ler ou assistir TV pra descansar do mundo, porque ando muito cansada de tudo, por vezes tenho quinze anos e tudo no meu corpo é sentimento, e eu desfilo de biquíni por aí atraindo olhares que nunca me olham de verdade, porque olhar de verdade é saber que o tempo vai me ferir em uns mil lugares diferentes e vai doer tanto e cada vez menos, até não doer mais.
As paixões já não soam tão dilacerantes, e os dias correm cada vez mais, o homem que na época dos meus vinte anos era o homem da minha vida, de repente é só um cara por quem eu jamais me interessaria. Não tenho mais um prato favorito, é cada vez mais difícil encontrar um sabor novo e interessante, já conheço tantos e me enjoam. Outro dia um senhor sentou ao meu lado na sala de espera de um consultório, iniciamos uma dessas conversas corriqueiras, quando chegou sua vez de consultar, ele se despediu dizendo que eu era muito jovem pra ter os olhos tão tristes, que não deveria ser assim quando ainda tenho muita vida pela frente, mas é que eu olho em volta e parece que já vivi tanto dentro do meu peito que até os orgasmos mais empolgantes são apenas orgasmos, e passam.
Aprendi que não há nada mais cruel do que aprender, talvez por isso antes o meu maior pesadelo era andar nua pelo centro da cidade e agora, por alguma estranha razão, é estar vestida numa praia de nudismo, eu não quero ser a única a estar vestida num lugar onde todos estão nus, eu realmente não quero.
Cansei de esperar a hora certa de fazer as coisas, se eu tô afim, vou lá e faço, se não tô, ninguém me influenciará a fazer, eu acho. Cansei de meias palavras e meios sentimentos e meias atitudes e meios termos, eu tô inteira, gosto de gente inteira por perto. Cansei de muitas outras coisas também, mas que se dane, nem vale a pena contar.
O amor não é mais escasso, a escassez agora é outra. O sexo não é mais tabu, tabu é só um dilema do que pôr na lista de supermercado. Os estranhos são as pessoas mais interessantes agora, na realidade sempre foram, só que não se sabe disso aos 15, 20 anos. A vida ainda é um mistério, mas nada é tão novo, nada é o ponto G, e se alguma coisa é o ponto G, fudeu, deve valer muito a pena.

Nenhuma dor, medo ou paixão são maiores do que eu. A rebeldia agora precisa de causa e ela precisa ser nobre, senão não vale o esforço. Nem lembro mais há quanto tempo a última palavra não precisa mais ser a minha. Tenho toda pressa do mundo e nenhuma pressa, nada demais... É só que aos 30 anos as rosas vermelhas permanecem vermelhas, ainda bem, pois eu continuo não fazendo idéia de que cor é mesmo magenta. Tiara Sousa