sábado, 29 de junho de 2013

LUAN



É preto e branco, o mundo em que te conheci, como se das cores tivesses sido furtado, ou tivesses fugido pra outro lugar. É que ainda não vivestes tanto, e que teu nome rima com o nome do meu filho, que agora brinca com carrinhos enquanto você protesta ou beija as meninas que eu nunca, nem quando menina pude ser, já que em mim nunca nada foi traduzível.
É que nesse lugar onde moras, não tem moldura, nem se revela, nem combina com a minha falta de rimas, e a minha sobra de sorrisos tristes. É que o teu abdômen é a única coisa em ti solitária, é que o teu abdômen combina com os meus olhos.
Enquanto tu ignoras o que faltou para o dia ser perfeito, eu procuro com esmero as imperfeições do dia, por que sem dor eu não construo frases, e sem construí-las eu seria apenas mais uma dessas moças simples e óbvias que você já teve em seus braços.
Necessito que venhas urgentemente ao meu encontro, mas que venhas num dia de chuva, eu já te imaginei na chuva e seria cruel me furtar esse delírio. Necessito que se vá cedo, por que tarde, passas a ser não mais somente essa imagem preta e branca que eu condicionei a ser somente minha, deixas de ser por enquanto e por inteiro.
Não precisas demonstrar esse despudor, essa necessidade de auto afirmação, esse convencimento fingido, essa popularidade vazia, nem esse olhar maliciosamente puro. Eu te quero cru, sem requintes que não sejam naturais, te quero com a camisa amarrotada e cheiro de plantas, te quero agora e pra ontem, mas não quero que fiques para sempre, meu para sempre já ficou e já partiu, e o nome dele rimava com o céu. Tiara Sousa


domingo, 23 de junho de 2013

MEU PARTIDO? 193 MILHÕES DE CORAÇÕES PARTIDOS


Cento e noventa e três milhões é aproximadamente o número de habitantes do Brasil, conhecido por ser o país do futebol e do carnaval, é na realidade um país lindo e de extrema desigualdade social, cultural e regional, resultadas de muita corrupção. Nos últimos dias, um número expressivo de pessoas em diversas cidades brasileiras, foram ás ruas, protestar, gritar, esbravejar, reclamar. E que imagens, que atitude, que geração!  Foram manifestações que começaram na cidade de São Paulo, por conta de um reajuste de vinte centavos no valor do transporte público e tomaram o Brasil, por que no fim das contas o que o povo manifesta nada mais é do que justiça, sim justiça, pois os altos preços no transporte, a falta de mobilidade no transito, os valor dos alimentos, o número extremo de impostos, a corrupção, a violência, a desimportância que nossos governantes dão a educação e a saúde, é injustiça sim.
É isso aí Brasil, que lindo! Estamos cansados de tanto deboche por parte dos nossos políticos, de trabalhar o mês inteiro e receber uma miséria, de ver o governo gastar uma fortuna com COPA, enquanto pessoas morrem de fome e nas filas dos hospitais, estamos exaustos. Como se não bastasse foram propostas a PEC 33, que atinge o STF e caso aprovada, modificará a relação entre os três poderes do país, ou seja, permitirá ao Congresso ter controle sobre ações do Supremo Tribunal Federal, e a PEC 37, uma proposta de Emenda à Constituição, conhecida como PEC da impunidade, pois pretende tirar o poder de investigação do Ministério Público, e se aprovada, inviabilizará algumas investigações como: desvio de verbas, crime organizado, abusos cometidos por agentes dos Estados e violações de direitos humanos, isso sim é violência, isso é destruir lares, famílias, dignidade.
Entendemos sim, a importância do voto, não entendemos é a falta de opção para votar bem, portanto não venham nos falar que podemos resolver tudo votando corretamente. Entendemos a necessidade de reajustes nos valores dos produtos comercializados, não entendemos é o valor vergonhosamente baixo do salário mínimo. Entendemos que embora este seja um movimento pacifista, tem ocorrido atos isolados de violência, mas entendam, a violência não nos representa, é só um reflexo da educação oferecida por vocês governantes. E definitivamente nos recusamos a entender porque as grandes mídias passam o maior tempo mostrando atos violentos que não são nem um por cento das manifestações, mostra aí os policiais agredindo, mostra a fome, a miséria, os hospitais lotados, mal equipados e sem médicos suficiente, os lugares horrendos que chamam escolas, mostra a merda que os governantes fazem com o povo, mostra aí REDE GLOBO, mostra aí redes televisivas.
Com todos os percalços, as manifestações tem sido lindas, porque repito, a violência não nos representa, assim como os prefeitos, governadores, deputados, vereadores, a presidenta não tem  nos representado, a mídia não tem nos representado. Até então, quem nos representa somos nós, os estudantes, os pedreiros, os pintores, os artistas, os médicos, todos os profissionais reais, que ganham uma miséria de salário e são obrigados a pagar uma fortuna de impostos.
Em muitas cidades se ouve falar de que não há um propósito real e único, que as pessoas vão às ruas sem saber exatamente pelo que lutam, não comprem esse discurso como a ignorância de um povo, é que essa falta de objetividade se dá pelo povo não saber pelo que lutar primeiro, é muita injustiça, é muita desigualdade, é muita violência, é muita miséria, é muita corrupção. Ninguém aguenta mais, nunca foram vinte centavos a mais no transporte, foram histórias inteiras de gente reduzida a nada, apanhando do sistema corrupto, desigual, antidemocrático, sujo, violento e criminoso que é a classe política dos governantes brasileiros, que deveriam representar o povo e que são bem pagos para isso, mas não o fazem. A vocês governantes, um recado apenas__ Somos nós quem sustentamos seus luxos, vocês trabalham para nós e não o contrário, queremos nosso país de volta. É por isso que lutamos, pelo Brasil, é por isso que neste momento meu partido é: 193 milhões de corações partidos de uma população, que é furtada, violentada, agredida, vandalizada, da hora que acorda até a hora que vai dormir. Tiara Sousa
A VOZ DO BRASIL!

domingo, 16 de junho de 2013

O Hóspede

Por Laila Lopes

Sempre que pensava naquelas coisas, lavava as mãos repetidas vezes. Como quem procura punição, esfregava uma na outra até que não conseguia mais distinguir sangue e água, escorrendo pelo ralo da pia. Pensava em quantos meninos iguais a ele teriam tentado enterrar dentro de si aquela maldição. E quanto mais limpava, mais tinha certeza de estar sujo com uma sujeira sem volta, algo que gruda, emporcalha e torna-se a segunda pele de alguém. Lembrou-se de como aquilo tudo havia começado: nunca quis a bola, o carrinho, ou seus dedos por entre o sexo menino daquelas meninas. Então se escondeu na barra da saia da mãe, por entre as tarefas do lar, por trás das roupas a passar, da comida por fazer, da preguiça dos irmãos em ajudar. E fazia tudo com o maior zelo, para ter sua feminilidade justificada, para que não precisasse mais acompanhar os irmãos naquelas brincadeiras de meninos, para que sua vida passasse despercebida. E passou, passou sem que ao menos perguntassem quem ele era ou mesmo o que queria. Até aquele dia. Naquele dia a mãe recebeu a visita de um parente distante, um primo de algum grau que não se calcula. Um homem bonito, bonito como nunca tinha visto. O primo se hospedou ali por alguns meses, tempo suficiente pra redespertar no menino vontades que a vida ensinou-lhe a esconder, a enterrar em algum lugar no seu desejo. Até que não pôde mais lutar, até que ficaram finalmente sozinhos. Embarcou com o hóspede num passeio que nem sequer tirou-o de casa, mas que foi capaz de mostrar-lhe o mundo que evitou por anos, conhecer. Não se sentia mais sujo, não queria mais lavar as mãos até ferir-se, talvez porque já não queria mais livrar-se de si mesmo. Talvez porque não visse mais naquilo que era a realização de seus pensamentos mais imundos, uma maldição. Naquele momento percebeu que nada poderia fazer para fugir de quem era, percebeu mesmo que gostava de ser assim. Precisava desesperadamente, ser feliz. Pegou algumas roupas poucas, um tanto mais de coragem e partiu. Algumas semanas depois, quando as pilhas de louças, roupas e sujeira se acumularam, foi que deram por sua falta: __ Uma empregada, precisamos urgentemente contratar uma empregada.


domingo, 9 de junho de 2013

Maria e João


“Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim.”

(Trecho de João e Maria de Chico Buarque)



Todos os dias Maria acorda, é assim que ela sabe que dormiu. Todos os dias ela toma banho, e veste-se, e calça as sandálias, e encanta-se com alguma coisa da natureza, como um pássaro, ou uma rosa, ou simplesmente o céu, e sente a presença incolor dele.
Todos os dias Maria nasce com o Sol e morre com a realidade, e todos os dias ela recebe ao menos uma ligação e dois olhares, que nunca são dele. Todos os dias ela fica ao menos cinquenta segundos no portão, esperando ele chegar, mas ele nunca chega.
Todos os dias ela canta ao menos meia canção, lê meia poesia, conta meia história, e lembra dele inteiro, cada detalhe do rosto, do corpo e da personalidade. Todos os dias ela encontra conhecidos, que desconhecem a dor que é para ela não tê-lo nem mesmo em sonhos, por que até os sonhos morrem com o tempo e a distancia.
Todos os dias Maria vive um quase romance sabendo estar próxima a data do fim, porque dentro dela nenhum romance é eterno, se não materializar-se nele. Todos os dias ela debruça sobre a almofada e faz-de-conta que é feliz.
Todos os dias Maria chora a ausência de João, e enquanto ela chora, ele faz alguma coisa que ela desconhece, em algum lugar que ela nunca está. Por que um dia João foi embora, e quando ele foi, fez Maria partir, partir de si mesma, partir em muitos pedaços, partir e não mais encontrar o caminho de volta. Tiara Sousa

sábado, 1 de junho de 2013

Quem nunca amou, que atire a primeira pedra

Quem sabe amar, sabe desconstruir os laços do futuro, sabe não estranhar ao ver alguém sorrindo com a lua, sabe não morrer de ciúmes da lua, mesmo intimamente querendo ser ela.
Quem sabe amar, pode tentar mudar o mundo, sem fugir dele para sempre, pode calar sem consentir, e ainda conseguir deixar clara a sua discordância.
É que o amor é natural e os seres humanos naturalmente cruéis, e é difícil perceber que saber amar é saber fugir estático, é conseguir ficar sem se permitir doer assim extremamente.
Sabemos que o amor é universal, mas fronteiras, grupos, status, etnias, cultura, classes nos separam, nos causam estranhamento, medo, torpor e até revolta.
Mas quem sabe amar pode enxergar mansões em favelas, sonhos em lustres, arte em rabiscos. Por que amar é tentar não chorar, pra não incomodar, pra não condenar, pra não afetar, amar é eternamente uma tentativa.
Quem nunca amou, nunca nasceu, não foi parido, amamentado, protegido e jogado a essa realidade maçante e linda chamada vida. Quem nunca amou, nunca sentiu a dor física de um até logo, nunca morreu de tesão por uma canção, nunca escutou ou viu, um sentimento.
Quem nunca amou, nunca se desmanchou em lágrimas e sorrisos, nem se trancou no escuro, nem perdeu o animo, nem teve fome, sede e frio, estando perfeitamente alimentado, hidratado, aquecido. Quem nunca amou, nunca duvidou dos poemas de Camões.
É que o amor é generoso, mesmo quando é egoísta, mesmo quando é travestido de ódio e rancor, mesmo quando para o tempo, ou faz o tempo correr.
Sabemos que o amor é uma distração necessária, é um termo imoral, é a fé que não é onipotente, nem onipresente, nem onisciente, que é, e só.

E é tão confortável falar sobre o amor enquanto calça os sapatos, ou dobra as roupas, ou caminha, que parece até que é simples explicar, mas não é. O amor é o estômago da fome, é os olhos do mendigo, é o pôr do sol do detido, é o aquilo que não vemos, não tocamos, não expomos, mas que nos vê, nos toca, nos expõe. Quem nunca amou, que atire a primeira pedra. Quem sabe amar, que a recolha e a ponha em seu lugar. Tiara Sousa