sábado, 25 de agosto de 2012

Eles

Não tô aqui pra explicar os homens, nem vou entrar nessas de tentar decifra-los, não sou tão ingênua a ponto de supor que conseguiria, hoje (agora), eu só quero falar sobre eles, falar sem a moral da história, sem as comparações, sem o disse-me-disse, sem o feminismo, só falar.
Eu não sei de onde eles vem, de que lugar vem esses risos que comprometem, que nunca são inocentes e nunca são culpados, não sei de onde vem esses olhos capazes de despir assim tão de longe, tão de perto. Não faço a mais remota ideia de quem construiu esses corpos sem curvas, aos quais multidões de mulheres se curvam, eu realmente não sei.
Se querem saber, eu os considero ingênuos, até quando mentem e quando ansiosos invadem os corações das mulheres, eles nunca pedem licença pra matar uma mulher de amor. É que as vezes (quase sempre), é difícil não morrer de amor por eles, é como chegar na beira do mar e não mergulhar, é quase covarde. E se eles não sabem que podem matar de amor, eles são ingênuos, ingênuos até quando beijam, pois beijam como se a boca que beijassem fosse a última, fosse a primeira, fosse a única, beijam com vontade, com desejo, destemidos, beijam como homem.
Sei que as mulheres são conhecidas pela ideias românticas, a adoração pelos filminhos de amor, o idealismo em cima do casamento e isso é bonitinho, mas românticos como eles eu nunca vi. Tem algo mais carinhoso do que o cara te puxar pelo cabelo sem “carinho nenhum”, tem algo mais atemporal do que ele morder o teu lábio, te pegar nos braços e te mostrar “quem manda”, ah isso é romântico demais. E definitivamente não há nada mais romântico do que o cara te dominar desse jeito na intimidade e depois te deixar escolher o filme que irão ver, o restaurante onde irão comer, os lugares que irão conhecer, e se for o caso a Igreja onde irão casar e a escola onde o filho de vocês vai estudar .
Eu não sei de onde eles vem, essas vozes graves que deixam as pernas bambas, as barbas que de tão malfeitas são bem feitas aos olhos femininos, a proteção que quando na medida e ainda que desnecessária é linda por que é proteção e que mulher nesse mundo não gosta disso. Não faço a mais remota ideia de onde vem esses ciúmes medidos, esse medo avassalador de ser traído, essa mania de querer bem sem fazer alarde, essa despretensão pretensiosa de nunca estarem tranquilos com seus relacionamentos ou seu desempenho sexual, eu realmente não sei.
O que sei é que eles são assim, uns menos, outros mais, e que sendo assim, são especiais. O jeito como andam, o modo como falam, a calma apressada como sentem, a intensidade com que desejam, e sobretudo a maneira avassaladora como chegam e se instalam na vida das mulheres. E como não amá-los, e como não admirá-los e como nunca e nem por segundo se inspirar tanto com o universo masculino, a ponto de escrever uma crônica de 520 palavras sobre ELES.
Tiara Sousa





segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os lentos

Tá tudo tão rápido que as pessoas não olham mais para o céu, que as adolescentes não rabiscam mais as carteiras da escola com os nomes dos seus namorados, que o mundo não aceita mais as rebeldias como manifestações da juventude, que a lua não mais empolga os amantes. Tá tudo tão rápido que as ondas do mar não são mais capazes de quebrar o silencio, pois não há mais silencio.
As cidades estão cheias de engarrafamentos, as filas do cinema estão maiores que a arte dos filmes, os celulares chamam sem parar a ponto de não dá mais tempo de sentir saudade, os cheiros passam despercebidos, os olhares insinuam mas não inspiram e os sorrisos são sempre mal interpretados e olha que um sorriso é das coisas mais belas desse mundo.
Os lentos não acompanham muito bem esses novos tempos, são motivo de graça e impaciência, imagina só, a economia mundial abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das eleições, o engarrafamento, as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência, as festas e os lentos lá, sentados na praia olhando o mar, nos cinemas chorando em finais de filmes, andando devagar pois sabem que chegarão ao seu destino, falando pouco pois sabem que cedo ou tarde as palavras certas serão ditas, e sentindo rápido, intensamente e desesperadamente, pois sentir para os lentos nunca é lento e é sempre maior.
Tá mesmo tudo tão rápido que as pessoas encontram amores e não param pra dizer um oi, sabe, aquele oi que iria bagunçar tudo, pois é, as pessoas não param pois estão atrasadas pra uma reunião, ou tem uma aula, ou tem milhões de coisas pra fazer. Tá tudo tão rápido que os corações não aceleram, que o romantismo ficou démodé, que a chuva é sempre rotulada como inoportuna e as gentilezas há muito deixaram de gerar gentileza, afinal quem tempo de ser gentil.
Mas e se parássemos de correr e começássemos a caminhar, a sentir o cheiro das coisas, o gosto dos beijos, o toque do encantador. E se apreciássemos as vistas, perguntássemos aos outros como eles vão, não apenas disséssemos bom dia, mas sobretudo desejássemos bom dia, eu não sei, mas acho que se assim fosse as pessoas seriam mais felizes, as sociedades mais justas, os corações mais leves.
Mas enquanto isso não acontece, os lentos continuam não acompanhando muito bem esses novos tempos, continuam sendo motivo de graça e de impaciência, mas imagina só, com a economia mundial abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das eleições, o engarrafamento, as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência, as festas, quem será mais feliz os acelerados tão engajados e envolvidos em todo esse processo estressante ou os lentos sentados na praia olhando o mar.
Tiara Sousa