sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Até logo ou adeus


Meu corpo, teu corpo e um infinito em nós. Alguns beijos, não são somente beijos, são a ocupação de um vazio que parecia nem ter fim. Você foi. mas eu vou te buscar das formas mais imprecisas, com todo o idealismo possível, nos meus sonhos, nas minhas neuras, nos poemas que não li, nos filmes que não vi, nos contos que não conheci, nas canções que não cantou pra mim. Porque eu preciso viver essa paixão, preciso que ela seja vivida com naturalidade, como um romance de novela, com começo, meio e fim, ainda que eu a viva sozinha ou de lembranças. O que você está fazendo agora, com quem está, no que está pensando, eu não sei, eu sinceramente não quero saber, a dor da tua ausência presente em todo o meu corpo já me faz companhia, não quero novas dores, só desejo que esteja bem e que me queira bem. Pois eu te quero, bem ou mal, alegre ou triste, rico ou pobre, sóbrio ou ébrio, eu te quero.
Eu posso adiar o máximo, andar pelos cinemas, pelas lanchonetes, pelas exposições, pelos bares, mais vou chegar em casa e encontrar o mesmo vazio no meu quarto cheio de recordações. Vão me paquerar por aí, talvez tentem me curar dessa paixão, dessa saudade, dessa química, talvez até tenha cura. O fato é que eu não quero a cura, não necessito de outra boca me beijando, de outra mão me tocando, de outro alguém. Eu quero sentir essa dor intensamente a espera de esperar por você enquanto o meu corpo desejar o teu corpo e nenhum corpo mais.
Sei que escrevo contraditoriamente, falando eu sou prática, escrevendo eu sou uma romântica incorrigível, é que eu não sou lá tão destemida quanto pareço, eu tenho medo do escuro, do amanhã, dos olhares que reprovam e me protejo de tudo e de todos, do estranho, do novo, do casual. Escrever me dá a liberdade que eu respiro, de não ter medo de nada, nem de ninguém e então posso contar tudo que me dá medo. E como eu tenho medo. Temo nunca mais te ver, temo te ver outra vez, temo não te tocar novamente, temo voltar a te tocar, temo te ouvir dando thial e indo pra longe, temo a tua volta, temo não viver essa paixão intensamente e sem interrupções, temo viver essa paixão. (Tiara Sousa)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Enquanto fingimos nos importar...


Observo as estrelas, constelações que unem-se pra enviar recados aos homens sem esperança. Vejo estradas, sombras; Horas que demoram a passar; As ruas estão cheias de pedintes, são estas um espelho da sociedade.

O governo diz que o progresso está por vir, mas há anos o progresso vem e nunca chega na casa dos mais humildes. Eu acendo um incenso pra afastar as energias ruins do meu quarto, no entanto continuo a ter pesadelos.

Na faculdade receberemos a visita de um renomado professor, que irá nos falar sobre as novas regras de ortografia da língua portuguesa. Eu não consigo fixar uma só regra, penso na África, nos homens, mulheres, crianças morrendo de fome, de Aids, de dor.

Vou dormir cedo nesta sexta-feira, no conforto da minha cama vou assistir a novela em que ninguém passa necessidade e escolher entre meus inúmeros vestidos caros um perfeito para apresentar um seminário tocante sobre a miséria de alguns povos.

Minha mãe vai chegar cansada do trabalho de educadora com crianças humildes e eu vou relatar a ela que o queijo e a geléia estão acabando. Meu pai vai me ligar pra contar do artigo que escreveu sobre o descaso dos políticos, dizer que achou linda a crônica que escrevi sobre socialismo e que já posso pegar o dinheiro pra comprar o sapato de meio salário mínimo que vi na vitrine.

Vou assistir ao Repórter Record e me emocionar com a reportagem sobre a crackolândia em São Paulo, aquelas crianças se prostituindo pra sustentar um vício que irá matá-las antes que adquiram maturidade. Enquanto isso, meu filho espera ansiosamente o fim de semana, vamos ao Bob’s ou ao shopping passear.

Minha tia vem nos visitar, como sempre vai contar as histórias tristes decorrentes da falta de leitos no hospital público em que trabalha, enquanto conversamos, assustada com tais dificuldades vou lembrar de procurar minha carteira do plano de saúde, sabe lá quando posso precisar.

Outra noite se aproxima, começo a pensar na violência da cidade, trabalhar na redação de um jornal e saber em primeira mão das notícias policiais tem assombrado meu sono, tenho tido muitos pesadelos. Enquanto isso milhões de pessoas vivem um pesadelo e ainda me considero sensível em relação a situação de miséria que vive grande parte da população, estou errada, vou levando a minha vida de classe média, vocês vão levando suas vidas de classe média, fingindo se importar. Continuam no conforto de suas casas e ligam uma vez no ano para o ‘Criança Esperança’, fingindo se importar.

Se não tivermos a infelicidade de sermos vítimas da violência decorrente da desigualdade social e a morte for por causas naturais, morreremos num apartamento com TV, ar-condicionado e frigobá de um hospital caro e famoso, fingindo nos importar.

Tiara Sousa

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sexo oposto, cada dia mais oposto!


As mulheres falam demais. Os homens fazem demais. E como disse Lulu Santos:
“Assim caminha a humanidade”, as mulheres cada vez mais sentimentais, românticas e desiludidas e em contra-partida os homens continuam numa busca com pouquíssimos limites por saciar a libido.

E o que faz a humanidade, diante de tantas diferenças, que há muito são escrachadamente mais que físicas e abrangem tudo. Como entender o sexo oposto que a cada dia fica mais oposto, como viver sem ele que com o tempo desperta mais atenção, desejo e curiosidade?

A verdade é que desde que o mundo é mundo os seres humanos procuram entender-se, buscam a compreensão do outro sexo. Se todos temos emoções, desejos, falhas, pensamentos, o que torna o homem e a mulher tão diferentes, onde estará o ponto de equilíbrio que possibilitará, mesmo nos tempos atuais com a ascensão do feminismo, a aceitação da existência do femismo e a perpetuação do machismo, a capacidade de nos relacionarmos com o mínimo possível de hipocrisia, com personalidade e sem máscaras?

Em países católicos como a Espanha, Itália, Portugal e em toda a América Latina, machismo é a crença de que os homens são superiores às mulheres. É bastante comum a idéia de que o feminismo é um equivalente direto ao machismo, o que é equivocado, já que filosóficamente "superioridade feminina" é chamada de femismo, o que gera confusões, pois muitos ainda chamam de feminismo. Mas na realidade o termo feminismo é um discurso intelectual, filosófico e político que tem como meta os direitos iguais e a proteção legal às mulheres.

No deleite dessas diferenças e na incompreensão do sexo oposto, nos chocamos com frases muito usadas por homens e mulheres, que compõem o que chamarei de discurso machista e discurso femista (derivada do femismo). Enumerando e desmontando algumas das mais famosas idéias que integram esses discursos, vamos esclarecer algumas coisas.

Discurso Machista (DM) / Desmontando o Discurso Machista (DDM)

DM 1 A gostosona é só pra curtir.

DDM 1 As chamadas gostosonas, são mulheres de formas avantajadas e são assim por uma questão genética, as formas de um corpo não revelam o caráter e a personalidade de ninguém.

DM- 2 A mulher que me dá de primeira eu não levo a sério.

DDM- 2 Mulheres também tem desejos e acontece de agirem por impulso, isso não significa que isso aconteça sempre, significa que o sexo feminino também integra a raça humana.

DM- 3 Ela é maravilhosa, mas tem filho e eu não tô preparado pra ser pai.

DDM- 3 O fato de namorar uma mulher que tenha filho(s) não significa que ela vá querer fazer do namorado o pai do seu filho. Ela quer alguém pra beijar, transar, passear e compartilhar, não pra assumir tais responsabilidades, até mesmo porque ela não confiaria a alguém que está conhecendo nada relativo à pessoa que mais ama no mundo. Claro que sendo mãe, ela não terá a mesma disponibilidade para o cotidiano de um relacionamento e o homem não estar disposto a entender e conviver, não é preconceito, é opção. O fato é que se não quiser namorá-la, que seja pelos motivos reais.

DM- 4 Mulher que sai muito à noite não é flor que se cheire.

DDM- 4 Se liguem rapazes. As verdadeiras boêmias saem pela noite, pelo som, pelo papo, por amor à boêmia, e em sua maioria são até mais seletivas que outras mulheres, pois a noite está sempre repleta de homens. As boêmias gostam da noite, não das noitadas.

DM- 5 Aquela é pra casar.

DDM- 5 Mulher pra casar é a que deu certo com o homem, na cama, no papo, nos objetivos e principalmente no dia a dia. O fato de uma mulher ir a igreja, não beber e cozinhar bem não significa muita coisa. Casamento é convivência diária e não fama de santa.

DM- 6 Deu mole, eu transo mesmo, sou homem.

DDM- 6 O homem não é menos homem por dispensar uma transa, ele só é mais seletivo, e na visão feminina muito mais interessante.

Discurso Femista (DF) / Desmontando Discurso Femista (DDF)

DF- 1 Homem nenhum presta

DDF- 1 O fato de o desejo deles ser comprovadamente mais voraz do que o das mulheres e por isso ser mais difícil resistir às tentações, não significa que não é possível, essa idéia vinda das mulheres só faz eles não tentarem, já que elas não acreditam mesmo. Não cultivem essa idéia, três ex-namorados galinhas não são nem 1% da população masculina.

DF- 2 Ele só pensa naquilo

DDF- 2 Errado, eles pensam muito em sexo, mas nem tudo envolve isso. Afinal se fosse desta forma não estudariam, trabalhariam, conversariam e encantariam. Homens pensam muito em muitas coisas, afinal Chico Buarque de Holanda é homem.

DF- 3 Eles só servem pra uma coisa

DDF- 3 Nada disso, sexo não é tudo que um homem pode oferecer, eles podem até ser mais centrados, porém também tem sensibilidade, quebram muitos galhos diários, ajudam muito as mulheres e ainda matam baratas.

DF- 4 Homens tem um lento amadurecimento

DDF- 4 Lenta é essa forma de pensar, tem muita cara por aí que trabalha, estuda, namora, é pai e ainda sonha, tudo isso antes dos 30. Considerá-los imaturos só porque depois de fazer tudo isso ele joga um vide game, um futebol ou toma um chopp com a galera é imaturo demais.

DF- 5 Homem precisa de mulher pra tudo, são muito dependentes.

DDF- 5 Cuidado com esse pensamento, é auto confiança demais. Homens só são dependentes até quando querem. Se vão morar sozinhos, em dois meses eles se viram melhor do que muita mulher por aí.

DF_ 6 Eles não sabem ouvir

DDF- 6 Eles sabem ouvir sim, só é preciso que haja a compreensão que naturalmente mulheres falam mais e homens ouvem menos. Sabendo dosar e falar coisas empolgantes e de forma leve eles podem se mostrar ótimos ouvintes.

Gostaria de deixar claro que assim como toda regra tem exceção, os desmontes desses discursos também tem. Pode existir a gostosona safada, o cara que nunca ouve, entre outros. Porém julgar a todos pelas minorias é um erro e pode fazer alguém perder a oportunidade de viver um grande amor, pré-julgamentos baseados em discursos falhos não acrescentam a vida, só subtraem.

É completamente perceptível que as diferenças são muitas, que o entendimento é pouco e que a recompensa existe. Mulheres serão sempre mulheres, irão continuar tendo TPM, se apaixonando perdidamente, requisitando atenção, falando demais, ligando na hora do almoço e regulando os horários. Os homens por sua vez vão continuar loucos por futebol, babando corpos esculturais, não reparando o novo corte de cabelo e fazendo cara de santo nas situações mais inusitadas.

Mas se passarmos a enxergar essas diferenças com atenção, perceberemos que é aí que mora o interesse, a curiosidade, o tesão, e precisamos perceber isso, porque ultimamente os relacionamentos não estão durando, terminam em discussões judiciais ou nem começam quando tinham tudo pra começar. Tá mais do que na hora dos homens pararem de tentar entender as mulheres e vice-versa, tá na hora dos sexos opostos se aceitarem, a aceitação independe de entendimento, aceitar é gostar do outro apesar de todos os defeitos, diferenças, esquisitices, pois toda e qualquer qualidade é por natureza superior.

O que a humanidade busca sempre é amor e não há formas de cultivar um amor abominando todo o resto. Então vamos amar, fazer sacrifícios, chorar, sorrir, perder, ganhar. Não é à toa que os opostos se atraem, então que tal viver intensamente os riscos dessa atração?

Tiara Sousa

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ser Mãe


Eu nunca pensei em ser mãe, tinha em mente uma vida adulta desprendida e de total liberdade pessoal, dedicação apenas a estudo e realizações vocacionais, não conseguia sequer imaginar-me amamentando, trocando fraldas, moldando um caráter, repreendendo, e tão entregue a um amor tão cotidiano e sublime, eu já sabia que parte da realização feminina inclui a maternidade, e que a maternidade inclui imensamente a doação, a entrega e o sacrifício e não estava disposta. Mas inesperadamente eu me vi grávida aos dezoito anos e foi sem dúvida a ocasião mais difícil e louca da minha vida até então, eu me desesperei, ainda me sentia uma criança, ou realmente fosse, eu sequer sabia ser filha direito, como poderia ser mãe. Como iria ser minha juventude, como dividiria o meu tempo, como continuaria meus estudos e iniciaria minha vida profissional, como sairia com os amigos, o que eu seria capaz de renunciar, eu não sabia e o medo tomou conta de mim, comecei a ter taquircadia, perdi alguns quilos, tomei vários porres, chorei muitos dias, até que senti o bebê mexer, e me senti mãe, no decorrer da gravidez eu fui me apaixonando de tal forma pela nova vida que eu gerava, a ponto de me perder entre a dor e o prazer de uma gravidez precoce, alguns que eu considerava amigos desapareceram, nas ruas as pessoas me observavam com dó e preconceito, era uma criança que esperava outra, mas o que eles não sabiam, e que nem eu sabia, é a infinita capacidade que o ser humano tem de amar, e eu amei, amei o primeiro choro, o primeiro riso, a primeira palavra, o primeiro passo, o primeiro dente, o primeiro obstáculo, o primeiro “Eu te amo”, a primeira teimosia, o primeiro desenho, a primeira indiscrição e todos, todos os outros que se seguiram e que virão. Não, isso não quer dizer que é fácil, é absurdamente difícil, nem quer dizer que por tanto amor eu sou uma mãe completamente responsável, eu não sou, nem quer dizer que eu não falhe, eu falho, nem quer dizer que eu não precise de ajuda, eu preciso, isso quer dizer que eu sou uma mãe de amor incondicional, e isso faz de mim alguém melhor. Na verdade a única coisa que posso afirmar com maturidade é que eu passaria por tudo outra vez, só para ouvi-lo dizer “Mamãe, eu te amo; Feliz dia das Mães”.

Tiara Sousa

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Umami: O sabor da maternidade

Na linguagem formal, sabor é a propriedade das substâncias que afetam o sentido do paladar. Já na linguagem coloquial, sabor é a propriedade dos sentimentos. Nas duas linguagens, os seres humanos reconhecem cinco tipos de sabores: doce, amargo, azedo, salgado e o menos conhecido, umami.
Umami é o sabor característico de certos aminoácidos e não pode ser reproduzido por qualquer outra combinação dos outros quatros sabores.
Embora a maternidade possua uma mescla de sentimentos, opiniões e posicionamentos, requerendo da mãe posturas doce, amarga, azeda e salgada, isso é apenas cotidiano.
Há uma diferença entre o sentimento de uma mãe por um filho e de uma pessoa por outra. Somente a maternidade possui o quinto sabor, o amor incondicional e poético, capaz de iluminar os ambientes mais escuros, que vai além de qualquer outro sentimento, que é singular e ébrio.
É comum explicações científicos da dependência de um filho por uma mãe, mas o que a ciência não explica é a dependência oculta e poética da mãe por um filho. Tornar-se mãe é como ganhar novos membros e a cada percurso inexato, tristeza ou momento de dificuldades de um filho é como falhas nesses membros.
Como dizer a uma mãe que seu filho não é o mais lindo do mundo, que seu sorriso não ilumina, que seus olhos não guiam? Se a verdade é que uma pessoa pode não ter todos esses atributos, mas o filho tem, filhos sempre tem.
Tão grande é a entrega, a intensidade, a dependência e o medo, que a maternidade possui uma certa solidão. O amor de mãe é solitário, pois sabe que apenas ela ama o filho de tal forma.
E, por esta razão, o sabor da maternidade é umami, nem mesmo a união de todos os outros sabores e/ou sentimentos resulta nele.
È insana esta forma de amar, em que ama-se mais do que o alcance da compreensão e vive-se para que cada segundo de uma outra vida seja feliz e cada felicidade pareça eterna.

Tiara Sousa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Insanos

Insanos, somos todos, que já nem reclamamos mais nossos direitos, sequer sabemos todos os nossos deveres, e até nos habituamos com as dores sociais. Se respondêssemos mal, seríamos equivocados, se bem, seríamos corretos, como já nem respondemos, somos definitivamente loucos.
A loucura nunca é analisada deste ponto de vista, tão brusca é a autoria ridícula de fatos sociais, tão eminente é o uso dos fatos culturais para abafar a atual situação em que vivemos, onde os políticos fingem que fazem e nós, fingimos que vivemos dignamente, onde já nem sabemos quem é polícia e quem é bandido. Mas até quando vai dar pra fingir, é imposição ou crítica, é medo ou falha, é dor ou anestésico, que transforma em hospício um país de amor.
Os jovens já não protestam, fingem que se preocupam, que lutam por uma sociedade mais digna e justa, fingem, porque fingir é mais fácil, por que a ociosidade não é mais coisa de idosos. Os problemas sociais não são mais discutidos em grêmios acadêmicos, partidos comunistas e sim em bares, pra conquistar, pra aparecer, não pra resolver, nem pra mudar.
Nossos antepassados fizeram tanto por nós, quando saíram nas ruas em busca de democracia, do fim do racismo, da emancipação feminina, do fim da ditadura militar, e nós o que fazemos? Nada. Ficamos assistindo a novelas e futebol, lendo revista de fofocas e nos alienando cada vez mais, por que é confortável e deprimente.
Se definiram loucos os jovens que tentaram mudar o mundo, eu defino loucos os que não tentam mudar, pois tudo que foi conquistado até hoje, iniciou de uma tentativa.

Tiara Sousa

quinta-feira, 16 de abril de 2009

As células de uma sociedade

A célula representa a menor porção de matéria viva dotada da capacidade de autoduplicação independente. São unidades estruturais e funcionais dos organismos vivos e podem ser comparadas aos tijolos de uma casa, cada tijolo seria como uma célula. O organismo humano é pluricelular, ou seja, seres humanos possuem aproximadamente 100 trilhões de células.
Partindo desse conceito podemos considerar as células primordias na vida de um ser humano e portanto comparo que o efeito exercido num corpo pela célula é o mesmo que o do voto em uma sociedade democrática.
Na atual situação de cassação do governador do Maranhão, Jackson Lago, que está sendo acusado injustamente de compra de votos, abuso de poder político e econômico e conduta ilegal, tudo decorrente da ganância e do medo da família Sarney, que realizam tais práticas e detém o poder há 40 anos, pode-se afirmar sem dúvidas que a cassação neste caso não significa justiça e sim o contrário.
Fazer de conta que milhões de votos não existiram, que a eleição de um pedetista como Jackson não significou nada é como se destruíssimos milhões de células de um ser pluricelular, como se calassemos o grito de independência ou morte de Tiradentes, e antes de tudo, como se morressemos, depois de pensarmos ter conquistado a liberdade, depois de tanto gritar e chorar de emoção ao ver Roseana Sarney fora do nosso governo.
A justa vitória de Jackson Lago deu esperança a um povo que a família Sarney fez questão de que permanecesse ignorante, pois sabem que a ignorancia cega e enxergar seria reconhecer que os Maranhenses estavão prejudicados. O povo provou que a alienação estava por acabar. Mas infelizmente para os Sarneys não existem parâmetros, e eles querem o governo a qualquer custo, temem a ameaça de alguém capaz de instruir nosso povo, de melhorar nossas vidas, de libertar nossa gente, temem o governador.
E enquanto um circo é montado em torno de um golpe que eles denominam cassação, Jackson Lago caminha de cabeça erguida e de cabeça erguida o povo caminha a seu lado, tentando preservar as células da sociedade maranhense.

Tiara Sousa (Artigo escrito às vesperas da cassassão de Jackson, publicado no Jornal Pequeno, logo após a cassassão)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Meios de viver

(Dedicados aos primos falecidos Daniel e Diene)

Eu fiquei lembrando os rostos, algumas falas também;
Fiquei lembrando os gestos, os momentos. Mas os rostos é que não me saiam da cabeça.
Como pode-se morrer tão jovem, tão antes de realizar sonhos, supor ocasiões, dançar, cantar, amar?
Os jovens morreram. Deixando uma mãe sem respostas, uma filha sem esclarecimento, um dia sem sol.
Em meio ao carnaval, como se a alegria ainda pudesse contagiar.
Saber que não haverá mais conversas, mais discussões, mais vida.
E o que haverá ao redor? Se eles não mais sorrirão, não mais distribuirão bons-dias.
Se é parte da vida, a morte. Então porque dói tanto? Então porque mais cedo? Então porque com eles?
É realmente difícil medir o que é maior, a saudade ou a revolta, a fé ou a desilusão, o antes ou o agora.
E pra nós esse dia nasceu, iluminando a dor de nunca mais ter as suas companhias;
E pra nós esse dia irá morrer, e ainda estaremos procurando meios de viver sem eles.

Tiara Sousa

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Meus erros


Cansei de ser humana, de errar, de magoar,
de pré-julgar pessoas, de olhar e não olhar
Cansei de ser feminista, cansei de usar sapatos,
cansei de comprar vestidos mais caros que livros raros
Cansei de sentir remorso, cansei de sentir saudade,
cansei de trocar de amores e cultivar amizades
Cansei de mesa de bar, da loucura da boemia,
cansei até de Chico Buarque e da tal da filosofia
Cansei de Bob Marley, do som, do pessoal
cansei da minha família e do meu emprego ideal
Cansei da minha faculdade, cansei das minhas vaidades
cansei da hipocrisia humana e até da realidade
Cansei dos sorrisos falsos das amigas das minhas amigas
cansei de ouvir sempre, histórias repetidas
Cansei das idéias loucas, cansei de me apaixonar
cansei de ajudar ao próximo, cansei de menosprezar
Cansei de me achar o máximo, cansei de pensar errado
cansei da tal da moral, e dos beijos não roubados
Cansei da poesia, cansei da discussão
cansei da minha presente falta de concentração
Cansei das fofoquinhas, de ser uma menina má
cansei da estupidez e tranqüilidade que a vida dá
Cansei, cansei, cansei, agora vou descançar
Amanhã é outro dia, vou ao reggae extravasar

Tiara Sousa

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rafael


Ele chegou reacendendo desejos
Fazendo-me voltar a sonhar
Com um jeito meigo
E um olhar triste
De quem sente
Mais do que suporta

Sem muito romantismo
E meias conversas
Iludiu minhas ilusões
E encantou os meus encantos
Fazendo-me sorrir
De tudo que eu já não achava graça

Ele foi embora
Deixando seu cheiro
A lembrança dos beijos
E um vazio em mim

Ele nem imagina...
Mas me fez chorar
Por que a paixão de uma mulher
Dura mais que o desejo de um homem
E a saudade é um tormento

Agora, distante...
Ele canta reggae
Enquanto eu ouço Bossa Nova
Assiste ao futebol
Enquanto eu leio poesia
Vive intensamente
Enquanto eu tento esquecer

Tiara Sousa

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Escrevendo para os jornais

Lendo os jornais, descobri que a violência é notícia, as doenças são notícia, os artistas, é claro, notícia, as greves, os eventos, os esportes, os acidentes, a política, muita coisa é notícia.
Escrevendo para os jornais eu finalmente descobri o que não é notícia.
Não é notícia a causa da insônia que eu tive ontém, o cansaço que eu sinto agora, a ressaca do mês passado, e uma paixonite fora de hora, os fracassos, a saudade, o sossego, minha história, o amor á liberdade, os sonhos que tenho, os momentos que vivi e os que deixei de viver.
Não é notícia, porque ao povo não interessa, porque eu não sou a Madona, porque eu não tenho parentes importantes, nem amigos influentes.
Não é notícia, por que os sentimentos são meus e a sociedade cristã não se importa, ela apenas faz de conta que somos todos irmãos.
Não é notícia por que o atual papel do jornalista é fingir que se importa com o que dá audiência e deixar de se importar com o que não interessa aos meios de comunicação.
Os jornalistas não são imparciais, as notícias não são imparciais, as pessoas não são imparciais.
A imparcialidade é sonho, filosofia, ditado popular.
Na faculdade não ensinam que a nossa vocação vira moeda de troca no mercado de trabalho ou mercado branco, que é como eu preconceituosamente gosto de chamar, mas tudo bem, preconceituosamente lemos todos os dias nos jornais chamarem mercados piores de mercado negro.

Tiara Sousa

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Paixões


As pessoas se apaixonam, porque os olhares se cruzam, os beijos se encaixam, os dias demoram a passar ou passam rápido demais.
As pessoas simplesmente se apaixonam.
Por que é complicado, é ilusório, é tênue e é demais.
Nas praças os adolescentes se declaram, na noite os boêmios se agarram, nas portas as mocinhas e os rapazes se eternizam.
E assim são as paixões, o orgulho vai embora, o bom-senso vai embora, as diferenças vão embora, a boa-conduta vai embora;
O que permanece são os sorrisos bobos, o chorar escondido, os impulsos surpreendentes, as dores abomináveis e os ciúmes fora de hora.
E não importa se a paixão durar um mês ou um ano, ela sempre bagunça a vida das pessoas, ela sempre atravessa os objetivos e as prioridades de alguém, ela sempre toma conta de 90% dos pensamentos do apaixonado.
Por que se apaixonar não é pra qualquer um e é pra todo mundo.

Tiara Sousa

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Verdades e Mentiras

Acreditar nas pessoas...
Dizem que é coisa de gente boba, gente idiota, gente infantil;
Mas eu acredito.
Acredito nos sorrisos e nos olhares;
Acredito nos gestos e nos momentos;
Acredito nas palavras e no silêncio.
E é claro, não fugindo as regras;
Ás vezes descubro que as tais verdades, são mentiras bem contadas, expostas e surpreendentes.
É mais fácil ler um complexo texto de Arendt do que decifrar uma pessoa;
O ser humano é subjetivo e formal, mesmo aparentando informalidade.
Precisa-se mais do que experiência, maturidade e atenção pra descobrir o que alguém é capaz de fazer;
É preciso ser igual a esse alguém ou então esperar.
Não há mentiras e máscaras que o tempo não derrube.
E ás vezes dói ter acreditado.
Mas também...
Não há feridas e mágoas que o tempo não cure.

Tiara Sousa

sábado, 3 de janeiro de 2009

Amores Possíveis ( No embalo de reggae)


Tudo é possível e improvável em São Luís; "A ilha do amor". No embalo de um reggae, as pessoas ao redor, gente que não entende e que não se entende, jovens de toda a parte do país.Olhares, atração, beijos, vontade, sexo, desejos, viagens. Um vai, outro fica. Continuam suas vidas fingindo que nada aconteceu, que foram apenas dois meses, que não doeu.Um romance com prazo de validade, porém, ainda um romance.Os sorrisos, as lágrimas, as conversas, as pessoas, os sons; Tudo guardado em algum baú, a sete chaves.Uma história pra contar aos netos ou apenas um sonho, com começo, meio e fim.Porque amores possíveis...Só são possíveis, no embalo de um reggae.