domingo, 25 de novembro de 2012

Ser adulto dói mais a cada ano...


Estamos todos assim, perdidos, ser adulto dói mais a cada ano... E caminhamos, caminhamos, muitas vezes esquecemos de sentir, n’outras sentimos demais. Tantas, tantas vezes caminhamos pra não chegar e não chegar é como nunca ter ido, é sentir-se estático no tempo. Não sorriam para mim hoje, amanhã talvez, porém hoje não, hoje meu coração está pendurado no varal, hoje eu tento compreender a vida e tenho a impressão que fiz tudo errado, acho que muitos sentem-se assim, confusos, inseguros, sensatos ou insensatos demais.
Eu sinto falta daquele frio na barriga, daquele desejo imenso, do irresistível, do inapropriado, do inconsequente, eu sinto falta da pureza, da inocência, da descoberta, eu sinto falta do Sol, mesmo quando está Sol. Eu já fiz as malas, eu já parti, sei que já parti mesmo estando aqui, eu sei que estando aqui já não significa nada. Eu não leio mais jornais, eu escrevo pra jornais, mas não os leio mais, a curiosidade é a minha roupa velha, amontoada numa sacola velha, eu não a uso mais.
Estamos todos assim, perdidos, ser adulto dói mais a cada ano... Nós sonhamos, mas não como antes, sonhamos de olhos abertos, mas não como antes, sonhamos acompanhados e sós, mas nunca como antes, porque antes não é agora, antes não volta, antes não tem conserto. Não venham me falar da beleza da vida nesta fase da minha vida, deixem seus salmos, seus conselhos, seu otimismo em casa, pois nesta fase da vida eu só preciso de um copo de leite e um comprimido pra dormir, nesta fase da vida eu só preciso de um analgésico e tempo, nesta fase da vida eu só preciso de uma música mais alta que o meu pensamento.
Eu quero silencio, mas atualmente eu só consigo silencio gritando por silencio, eu quero mais natureza e menos tecnologia, e mais do que tudo quero um, apenas um motivo que me faça chorar, após algum tempo chorar fica cada vez mais difícil, nós acabamos por nos habituar ao sofrimento, nos habituamos tanto a ponto de sofrê-los friamente. Meu coração está inteiro, eu é que estou pela metade e estar pela metade é não estar.
Estamos todos assim, perdidos, ser adulto dói mais a cada ano... Eu sei mais do que as crianças, eu sei mais do que os adolescentes, mas tudo que eu quero e preciso é saber menos e menos e menos. Eu não tenho mais 20 anos, mas também ainda não tenho 30, tudo que eu tenho é pressa, insônia, compromisso, obrigação, responsabilidade, dor de cabeça. Ainda tenho vontade de mudar o mundo, mas acordo todos os dias cansada demais pra isso, sem tempo nenhum pra isso, sem animo nenhum pra isso e isso é tão abominável que definitivamente eu sei, eu realmente sei, que ser adulto dói mais, e mais, e mais a cada ano. Tiara Sousa

domingo, 11 de novembro de 2012

Nenhum deles era você


Preparem-se para ler a mais bela, doce e meiga história já postada neste blog...

Quase um ano se passou desde aquele quase romance, ou sei lá que nome dou àquilo, flerte prolongado, paixão tímida, sintonia perfeita, não sei. Quase um ano organizando a desorganização rotineira que se tornou a minha vida e aí você reaparece, com esse jeito cínico achando que pode bagunçar a minha cabeça quando quiser, se achando o tal, quem você pensa que é? Será que você acha que eu vou estar sempre aqui disponível, que nada aconteceu nesses últimos tempos, que eu não conheci ninguém? Eu conheci. Devo ter tido, sei lá, uns vinte encontros, com uns seis caras diferentes, só não deu certo. Um era lindo, a cara de um ator aí que eu não lembro o nome, trabalhava no banco como gerente, tinha uns olhos hipnotizantes, castanhos, graúdos, dava até pra se perder naquele olhar e só não aconteceu nada de mais sério, porque ele tinha o péssimo hábito de rir de tudo que eu falava e cada vez ele ria eu percebia que a risada dele não era como a sua e aí eu desencantava. Teve um outro que era tão obcecado pelo mar quanto eu, nós tínhamos a mesma mania de sentar à beira-mar só pra ficar olhando aquela beleza toda, e eu gostei tanto disso que quase fui pra cama com ele no terceiro encontro, e ele beijava bem, mas nos beijamos tantas vezes que deu tempo de eu perceber que ele nunca ia beijar como você, aí eu caí fora, voltei a contemplar sozinha a beleza do mar. Ah e ainda teve o carinha que eu conheci no shopping, veja só que inusitado encontrar  um cara tão livre, politizado, de bom gosto pra filmes, músicas e livros num shopping, só comigo mesma pra essas coisas acontecerem. Eu comecei a conversar com ele e pensei, se eu deixar ele escapar eu serei a maior idiota do século, pois eis aqui a maior idiota do século, porque eu deixei, porque depois de, sei lá, umas duas horas conversando, eu percebi que ele não falava como você, e aí fui eu que falei, falei até logo, e nunca mais voltei a vê-lo. Daí passei uns dois meses só, devo ter saído com mais uns dois depois disso, não lembro muito bem o que despertou meu interesse por eles, só lembro mesmo que um deles não andava como você e o outro, bem, o outro não olhava como você e não olhar como você soava como um desacato. Então resolvi ficar com um carinha do passado, um que já existia antes de você, é, eu sei, foi mesmo um pouco de apelação, é um ex-namoradinho de adolescência, sabe, reencontro depois de anos, foi legal, o redescobri como um homem maduro, atrevido, que pegava de um jeito, e devo admitir, com esse eu transei, só pra saber se com o tempo ele melhorou em tudo mesmo, e gostei, aprovei, mas aí depois de algumas tórridas semanas de sexo e passeios, finalmente aquele momento de constatar se eu estava apaixonada, então eu lembrei que eu não cheguei a transar com você e fugi dele com mais de mil, ele não podia continuar tendo o que você não teve, ele não era você, nenhum deles era você. É, sei, talvez você não tenha entendido muito bem porque eu não transei com você, já que só você dava risada como você, já que só você beijava como você, já que só você falava, andava e olhava como você, já que só você era você. Não é que eu seja puritana, sabe, nunca tive aptidão pra promiscuidade, mas puritana também nunca fui, nem que eu não quisesse me entregar completamente a você, ah, eu quis tanto, quis com a cabeça, com o corpo, com a língua, com as mãos, com os olhos, e continuo querendo com tudo isso. Mas é que eu já tinha passado por poucas e boas quando te conheci e fiquei morrendo de medo de que depois que acontecesse, eu ainda quisesse com a cabeça, com o corpo, com a língua, com as mãos, com os olhos e que eu quisesse mais, e que eu quisesse pra sempre, e que eu quisesse sozinha. Eu sei, devia ter arriscado, mas eu nem sabia, ainda não sei como fazer isso depois das tantas coisas que eu vivi e senti, eu já tinha sentido dor antes de você, doeu tanto e tão devagar, que me tornei covarde, mas quando você apareceu e aconteceu na minha vida, eu fui escapando do que eu previ que seria uma nova dor, só que maior e ainda mais abominável que qualquer dor que eu já tivesse sentido, que qualquer um já tivesse sentido, uma dor estranha, e íntima, e agonizante e ainda mais estranha, e ainda mais íntima, e ainda mais agonizante , e então fingi que não sentia desejo, e passar a desejar somente o que eu pudesse imaginar me pareceu mais seguro. Mas não consegui superar assim de uma hora pra outra, só agora estava passando essa saudade daqueles três meses em que nos víamos todos os dias e nos víamos inteiramente porque quando estávamos juntos éramos muito autênticos e o curto tempo em que nos conhecíamos não mascarava nossas personalidades, juntos éramos nós e ser nós foi a coisa mais singela, meiga e divertida que já me aconteceu. Será que foi só uma amizade colorida, será que foi um romance preto e branco, será que aconteceu da forma como eu me lembro ou eu estou fantasiando, não sei, mas estava mesmo mais fácil, já que você sumiu e eu tinha que passar os dias te esquecendo, ou fingindo que te esquecia. Só que agora, logo agora que estava tudo indo bem, eu estudando, trabalhando, batendo papo por aí, finalmente te superando, você reaparece, com esse jeito cínico achando que pode bagunçar a minha cabeça quando quiser, se achando o tal. Quem você pensa que é? Será que você acha que eu vou estar sempre aqui disponível, que nada aconteceu nesses últimos tempos, que eu não conheci ninguém? Eu conheci, só que nenhum deles dava risada como você, nenhum deles beijava como você, nenhum deles falava, andava e olhava como você, só que nenhum deles era você. Tiara Sousa

domingo, 4 de novembro de 2012

Dizer não


Dizer não às vezes é fácil, é natural e genuíno, ás vezes, só às vezes, pois outras vezes dizer não dói como a fome e a fome dói mais do que a vontade, a fome é a vontade elevada à necessidade, a fome é a falta elevada a consciência. Eu não quero dizer não, mas eu preciso; Eu não preciso dizer não, mas eu tenho. A dúvida é o fim da linha, a linha é o começo da agonia, a agonia é o fantasma da moral.
Dizer não querendo dizer sim é uma coisa estranha, dizer não precisando dizer sim é também uma coisa estranha, dizer não para alguém por quem se está apaixonado é a tortura da ditadura militar, é o militar da ditadura militar, são os olhos tristes das mulheres de Atenas, é a submissão das mulheres de Atenas, é o discurso de Hitler sendo aplaudido, é a mente de quem aplaude o discurso de Hitler, é o conhecimento ignorante, é a ignorância conhecida, é infame.
Entender um não é difícil, aceitar um não é exageradamente difícil, dizer um não contra a vontade, contra o sentimento, contra a expectativa é o exílio, é como ser insultado por quem sonhou ser elogiado, dizer não é a costa leste, é a costa oeste, é a bandeira de outro país, é fazer amor sem amor, é amar sem fazer amor, é anulação, é ilusão.
Gostar e ser gostado, falar e ser ouvido, sentir e ser sentido, é lindo, é voluntário, é nobre. Dizer não para quem gosta, para quem ouve, para quem sente é um palavrão na boca de uma criança, é o reflexo de um desfigurado, é o conformismo de um comunista, é a anarquia usando grife, é mentira.
Dizer não enquanto a mente exclama um sim, enquanto o coração clama um sim, enquanto as cordas vocais exigem um sim é bravo, é corajoso, é intimo, é triste. É uma boca implorando outra boca, é uma vontade implorando outra vontade, é um corpo implorando outro corpo, é a audição querendo, a visão querendo, o tato querendo, o olfato querendo, o paladar querendo e você ter que dizer não. NÃO. Tiara Sousa