A dor é quase infinita,
quase se explica, quase é conceito, é o que não procuramos no espelho e quase
mata como uma bala de raspão, ou uma faca a arranhar o pescoço. A dor é um
delírio, e talvez só por isso ela exerça tanta influencia sobre o prazer, a dor
é quase um prazer desconstruído ou avesso, e eu nem falo da dor física, que
essa pode ser medicada.
A dor é a falta de um
segredo, é o fim de um romance, é uma tristeza sem porquês, são varias vezes a
mesma lembrança de algo lindo que nunca aconteceu. A dor é um corpo sozinho junto
com outro corpo sozinho, é um milhão de companhias e ainda assim uma imensa
solidão.
A dor é um quarto escuro, é
um beijo comportado, é um olhar perdido a procura de alguma invenção que nunca tornar-se
à real, é um porre de nada, é a medida do antes que não volta e nem nos permite
voltar, é o desespero do momento que passa devagar demais.
A dor é um vazio tão grande
que deixa o mundo desinteressante e condena os corações a baterem
compassadamente, é ter um lençol como lembrança e não conseguir lembrar sem o
cheiro impregnado nele. A dor é o fim premeditado, é a pessoa certa aparecer no
momento errado, é um conjunto de erros sem conserto, é o sexo sem o irracional.
A dor é um buraco
atravessando o peito sem que ninguém perceba, é olhar ao redor e ver as coisas
lindas que conquistou, as pessoas lindas que conheceu, os dias lindos que viveu
e ainda assim não ser capaz de sorrir, nem de chorar. A dor é toda a frieza do
mundo a te envolver, é a constatação de que há muito já deixou de crer nos
contos de fada e passou a ler os cadernos de economia. A dor é o que, ainda
bem, muitas vezes ainda desconheço, mesmo quando ela parece ser tão intima.
Tiara Sousa