domingo, 4 de maio de 2014

NOSSOS AMORES

É inédito , ainda que pela vigésima ou trigésima vez, amar sempre é inédito. E todos os meus amigos tem chorado enquanto a vida passa...
Já vimos muitas paisagens, nosso céu já esteve de muitas cores, e quantos dias já nasceram enquanto nós morríamos. Vivemos muito e muito pouco pra chorar por amores que na realidade nunca foram nossos; Afinal, o que é mesmo o amor?
Esperamos por bons modos que nunca vieram, parece bobo esperar por bons modos num tempo em que flores murcham em plena Primavera. Eu quis chorar, e chorei, por que eu e todos que conheço estamos murchando com as flores. Cheguei a pensar que sempre dava pra fugir da realidade, mas não dava, não dá. E ultimamente tenho tido medo de tudo...
Observo a minha volta e a alegria se esvai, quis tanto que as coisas fossem simples que nunca mais sorri por motivos nobres, e só agora percebo, a gente nunca cresce, a gente morre desde o primeiro dia de vida, a gente morre...
Quero que sejamos felizes, mas ultimamente tenho achado todo mundo triste. Será que todos já sentiram as dores que senti, ou não poder mudar o mundo é que tem nos destruído?
Porque a gente acorda na melhor parte dos sonhos? Preciso de um quarto escuro em que tudo fique mais claro, tenho mesmo sentido a minha falta, a falta de quem eu era quando esperava tudo da vida...
Um rapaz se ajoelhou pra minha amiga e a pediu em namoro, dois dias depois não era mais nada disso, daquilo, será que ninguém mais sabe o que quer, ou os sentimentos é que são de vidro e ao mínimo descuido podem se quebrar. Na semana passada eu quis o fim de uma história porque fora da minha imaginação ela não era como eu sonhava, semana que vem já não sei, mas talvez isso explique porque sonhar fica cada vez mais difícil.
Uma outra amiga ama alguém que nunca está perto e que há tempos já deixou ser íntimo dela, será que ela faz ideia de que a pessoa que ama pode nem mais existir, já que o tempo transforma tanto as pessoas, e eu nem sei mais se eu choro pela minha tristeza ou pela tristeza dos outros, uma dor inteira nunca passa, fica.
Um dia Cazuza disse que seus “heróis morreram de overdose”, eu e meus amigos estamos morrendo de amores não amáveis, não reais, nem mesmo próximos, justos, dignos e explicáveis, amores inventados, idealizados, poluídos. Tem gente por aí dizendo que devemos ficar com alguém que nos mereça, gostar de quem gosta da gente, que relacionamento é bem mais do que ótimas transas e caminhar de mãos dadas, acho tudo isso lindo, mas foda-se, na prática é tudo balela, no mundo em que sobrevivemos amar é uma consciência tola, não se descreve um amor, nem se obriga, nem se pede, nem se simula, nem se expulsa, acho que ultimamente amor tem sido tudo aquilo que sentimos falta de sentir a ponto de inventar que sentimos, e só por isso chorei...
E essa é a minha geração, casamentos acabam, garotas traem, paixões duram dias, príncipes se tornam babacas, a distancia e a falta de intimidade encantam mais que a proximidade, e a cada dia que passa temos mais medo de transformar nossa ilusão em realidade e descobrir que há séculos o amor é apenas mitológico, que sobrou apenas um monte de gente tentando amar fantasias.
Mas tudo bem, temos sobrevivido, às vezes penso em mim e em meus amigos, talvez nossos amores na realidade somos nós, que amamos somente pessoas idealizadas, por que somos muito egoístas, sonhadores e vaidosos pra amar pessoas reais, com defeitos e manias e convencimentos e calos e enganos e tédio e chatices e acnes e problemas e dores e solidão e frieira e mau humor, e ainda queremos ser amados como somos, nunca vi nada mais incoerente...
Buscamos nos outros qualidades sobre-humanas, que nem nós temos. Devíamos mesmo aceitar os desencantos como aceitamos os encantos, devíamos mesmo abdicar das nossas inalcançáveis expectativas, mas sabemos tanto, que não sabemos amar nem ser amados. O amor seja lá o que for, como for, onde for, com quem for, deve mesmo ser generoso. Ah se aceitássemos todos como aceitamos os amigos, mas acho que ainda não sabemos, que ainda não sei, e eu queria tanto saber...
E só por isso é inédito amar, ainda que pela vigésima ou trigésima vez, amar sempre é inédito, e por tanto, por egoísmo, por incapacidade, por medo, por vaidade, nossos amores somos nós... Somente nós. Tiara Sousa