Precisei
chegar aos 32 anos de idade, ver meus ex casarem com mulheres menos belas,
inteligentes e complicadas do que eu, ver a crise econômica se instalar no meu
país, ver uma presidenta ser arrancada do cargo por uma quadrilha, ver meus
amigos homossexuais serem taxados de doentes em pleno ano de 2017, ver o pôr do
sol em Punta Del Este e em Coroatá (e concluir que o de Coroatá é mais bonito),
ser mãe aos 18 anos e adolescente aos 30, ser traída, ser usada, ser aplaudida,
amada, odiada, discriminada, infinitamente bem comida, infinitamente mal
correspondida. Ler teorias da comunicação e Shakeaspeare no mesmo intervalo de
tempo, ouvir a Nona Sinfonia de Bethoven e Bang de Anita (adoro essa música),
precisei de tudo isso pra entender uma coisa bem pequena, Freud, meu caríssimo,
genial, fodástico Freud, não explica porra nenhuma. Chico Buarque de Holanda,
que é o maior ídolo que tenho na vida, não explica porra nenhuma. Brecht, que
foi um acontecimento em muitos e geniais sentidos para o Teatro e para a
Literatura, não explica porra nenhuma. Ninguém explica. Quem quiser entender
alguma coisa que viva e sobreviva e compreenda sozinho.
Na
quinta-feira, voltando com a minha amiga da balada (adoro essa palavra, faz eu
me sentir tão jovem), concluímos que a gente nunca cresce, sabe a tua avó,
aquela senhorinha meiga e curiosa que já viu muito, passou por muita coisa,
teve perdas irreparáveis, teve ganhos também, você deve ser um desses ganhos,
pois é, a tua avó também não cresceu. A gente aprende, desaprende, aprende um
pouco mais, perde o brilho da juventude, o tônus muscular, a memória exata do
primeiro beijo vai ficando embaçada, o colágeno então, filho da mãe, esse é o
primeiro a começar a ir embora, perde flores que murcham antes de estarmos
preparados para ausência delas. Em compensação a gente ganha, a gente ganha
novas memórias, de novos beijos, a gente ganha filhos (Tem ganho mais lindo? Tem
não), a gente ganha laços, ganha cicatrizes, a gente ganha tranquilidade
emocional pra aceitar quando as flores murcham, ganha conhecimento e novidades.
Mas a gente nunca cresce.
A
gente nunca cresce porque toda alegria é pela primeira vez, toda tristeza, toda
paixão, todo ódio, todo amor, todo sexo, toda dor, todo fim, é pela primeira
vez. É sempre pela primeira vez. O olhar sobre os acontecimentos pode até
mudar, quase sempre muda, mas sentimento é sempre novo, é sempre inebriante,
estarrecedor, único, informal, perigoso, vivo, muito vivo. A gente nunca tá
preparado e isso é tão ruim, e isso é tão bom.
Quando
eu tinha 9 anos, no primeiro dia de aula do que na época chamávamos de 3ª série
(agora é 4º ano, até isso mudou), uma professora chamada Claudete me perguntou
o que eu iria ser quando crescesse, eu respondi que ainda não sabia. Faz um bom
tempo que estou atrás de Claudete, que atualmente deve estar na casa dos 50
anos e ainda deve ser a ótima professora que sempre foi, é que eu quero dizer a
ela que agora eu já sei a resposta pra essa pergunta. Professora Claudete que
lecionou na escola Centro Educacional Colméia no ano de 1994, se você estiver
lendo isso agora saiba que a minha resposta pra o que eu vou ser quando crescer,
é que eu nunca vou crescer, que vou sempre sentir como aquela garotinha de 9 anos
a quem você deu aula e ensinou a escrever seus sentimentos num diário, nada
mudou dentro de mim, só por fora que tem muita novidade, um dia eu te conto,
sei que vou te encontrar com outra aparência, mas não tem problema, conto assim
mesmo, aparências não me enganam, tenho certeza que você também nunca cresceu,
e não foi Freud quem me explicou isso, ninguém me explicou, eu entendi... A
gente nunca cresce. Tiara Sousa