Essa
dor é do tamanho do mundo, das distrações dos boêmios, do orgasmo dos amantes
apaixonados, essa dor é infinita e só cessa quando te vejo. Essa dor é maior
que eu, é a fome dos menores e maiores abandonados, é a crença dos devotos, é o
cinismo dos magoados, é o cheiro que você deixou no ar quando se foi.
Essa
dor não mora aqui, não tem nome, endereço, nem se parece com nada, não tá na Bíblia,
nem nos romances literários, nem mesmo nos livros de ciência, transita pelo meu
corpo longe do teu corpo, pela minha boca seca com a falta da tua saliva e de
nenhuma saliva mais, anda pelo quarto e me acompanha até nos lugares que não
previ passar.
No
começo achei que fosse exagero, depois achei que fosse morrer, agora prefiro
essa dor a nada e nem sei se essa dor é o nada.
Será
a mesma dor de Shakespeare quando escreveu Romeu e Julieta, ou a de Chico
Buarque quando compôs O que será que será, será que é só minha ou pensar assim
é egoísmo, será que um dia vou esquecer toda inocência que essa dor me tirou.
Essa dor é mal
educada, se instala pelos cômodos da casa, deita ao meu lado na cama, ouve as
minhas canções favoritas e chora as minhas tristezas como se fosse eu, ela tá
no cinzeiro cheio de pontas cigarro, tá no diário cheio de páginas em branco,
tá nas roupas nunca usadas porque eu comprei pra usar com você. Tá no samba que
passou sem dizer olá, no reggae que agitou meu coração quando deveria acalmá-lo,
nos poemas de Cecília Meireles que iluminaram a casa, quando nem mesmo sol pôde
fazê-lo.
Essa
dor é a libido que foi nossa e agora é apenas minha, é o verbo sem a companhia
do substantivo, é o adeus sem a esperança do até logo, é a minha nudez sem os
teus olhos. Essa dor é o começo do fim, é o meio do fim, é o fim do fim e ela
só cessa quanto te toco, quando me tocas, depois eu abro os olhos e ela ainda está
aqui, nos lençóis que não consegui lavar, nos sorrisos que não consegui dar, no
nós que não existe mais, dentro de mim. Tiara Sousa