domingo, 29 de julho de 2012

Essa dor



Essa dor é do tamanho do mundo, das distrações dos boêmios, do orgasmo dos amantes apaixonados, essa dor é infinita e só cessa quando te vejo. Essa dor é maior que eu, é a fome dos menores e maiores abandonados, é a crença dos devotos, é o cinismo dos magoados, é o cheiro que você deixou no ar quando se foi.
Essa dor não mora aqui, não tem nome, endereço, nem se parece com nada, não tá na Bíblia, nem nos romances literários, nem mesmo nos livros de ciência, transita pelo meu corpo longe do teu corpo, pela minha boca seca com a falta da tua saliva e de nenhuma saliva mais, anda pelo quarto e me acompanha até nos lugares que não previ passar.
No começo achei que fosse exagero, depois achei que fosse morrer, agora prefiro essa dor a nada e nem sei se essa dor é o nada.
Será a mesma dor de Shakespeare quando escreveu Romeu e Julieta, ou a de Chico Buarque quando compôs O que será que será, será que é só minha ou pensar assim é egoísmo, será que um dia vou esquecer toda inocência que essa dor me tirou.
Essa dor é mal educada, se instala pelos cômodos da casa, deita ao meu lado na cama, ouve as minhas canções favoritas e chora as minhas tristezas como se fosse eu, ela tá no cinzeiro cheio de pontas cigarro, tá no diário cheio de páginas em branco, tá nas roupas nunca usadas porque eu comprei pra usar com você. Tá no samba que passou sem dizer olá, no reggae que agitou meu coração quando deveria acalmá-lo, nos poemas de Cecília Meireles que iluminaram a casa, quando nem mesmo sol pôde fazê-lo.
Essa dor é a libido que foi nossa e agora é apenas minha, é o verbo sem a companhia do substantivo, é o adeus sem a esperança do até logo, é a minha nudez sem os teus olhos. Essa dor é o começo do fim, é o meio do fim, é o fim do fim e ela só cessa quanto te toco, quando me tocas, depois eu abro os olhos e ela ainda está aqui, nos lençóis que não consegui lavar, nos sorrisos que não consegui dar, no nós que não existe mais, dentro de mim. Tiara Sousa


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Foda-se! Um conto brega


Quando vai passar essa impressão de que apreciamos a lua ao mesmo tempo, de que recordamos os nossos beijos com a mesma vontade, de que cada nascer do sol é uma oportunidade pra gente se reencontrar, quando eu hei de te esquecer, quando o teu riso vai sair da minha mente, o teu cheiro vai sair do meu corpo, o teu gosto da minha boca, quando?Eu não sei, nem mesmo guardei aquelas fotos, nem desisti do futuro, nem pensei no trágico, apenas chorei e comecei a agir como uma pessoa fria enquanto contraditoriamente ouvia Waldick Soriano e arrancava flores dos quintais da vizinhança, sentindo a dor que não é física, mas dilacera tanto quanto ou mais que um ferimento à bala.Quando vou parar de sentir dó de mim, quase me amarrei na cama pra não ir atrás de você e dizer que o meu coração se importa, que só não larguei tudo pra ficar contigo, que só não briguei mais por nós, porque sou uma romântica e românticos se apaixonam perdidamente por uma pessoa, mas continuam a amar o resto do mundo, família, amigos, paisagens e até estranhos, se lhe soarem simpatia.Lembro de nós, sentados à beira-mar, apreciando a vista exibida e falando da vida tão dura e tão pura, sei que sempre terei a juventude como um tempo belo, confuso, sofrido, mas belo, porque você esteve lá, e sei que ainda você mude, viaje pessoas, conheça lugares, se apaixone perdidamente ou desacredite de tudo, eu vou estar lá, naquela praia e dentro da tua mente esperando aquele “fevereiro chegar”.Já te vi em várias faces, nas ruas cheias, nas multidões vazias, o vejo tanto que quase acredito que é você, mas nunca é, a saudade que sinto é uma distancia próxima, e atravesso as avenidas sem distribuir um sorriso, sem lançar um olhar. Não sou como esses estreantes da juventude que acreditam que química se encontra em cada esquina, nem sou das antigas gerações que acham que química pouco importa, minha química é você garoto e a sua sou eu e deve mesmo existir algum motivo pra essa química tão grande.Mas neste momento, enquanto ouço Waldick Soriano: “Volta, fica comigo só mais uma noite, quero viver junto a ti, volta meu amor”, penso em você e sinto que pensas em mim ao mesmo tempo, com a mesma intensidade e igual leveza e isso é tão brega que deve mesmo ser verdadeiro, assim como todas as canções exageradamente românticas que um dia ainda hei de ouvir ao seu lado.

Tiara Sousa