domingo, 28 de julho de 2013

LOUCURA

Esquece. Há dor nos seus olhos, mas esquece. Que o fim do dia já chega, que o mundo já passa, e acabo de saber que em algum lugar do mundo, alguém chora a tua inconsistência.
Esquece. Os nossos corpos gritam, e eu te demonstro num sorriso que a chuva passou, você prevê o tempo e o Sol enlouquece.
Eu já vejo sombras há tanto tempo, que dói não ter ido onde você estava, e você nem me prefere quando eu estou perto. Eu amo as luzes sob o seu corpo, e enquanto amo, o fim não chega.
Eu já assisti novelas demais, já li romances demais, já vi comedias demais. Agora não, agora eu vejo paisagens e componho canções. Eu ressinto a natureza, mas é você quem a constrói, com um sorriso assim meio de lado, um olhar tímido, e uma sede que não passa por onde caminho.
Lembra da tua mãe, de como ela te olha, de como te venera, de como te é... Me dói saber que eu nunca vou te olhar assim, que a natureza do meu sentimento é diferente, que eu me perco nos detalhes do teu corpo masculino e sápido, e voo, e voo. O desejo me consome tanto, que eu desvaneço só de imaginar.
Já fui para o inferno, já fui para o céu, já fui em você tantas vezes e provei do céu, tantas outras do inferno, e essa loucura não cessa. Sempre volto com o mesmo gosto agridoce na boca, o gosto da falta, da vontade, da espera, da próxima vez, da dúvida, da certeza.
Eu venho de um lugar em que poetas são juízes, cronistas governam, Marias chefiam, Josés choram. Você vem de um lugar em que estrelas sobram, e eu sei que parece diferente, mas no fim das contas viemos do mesmo lugar.
Amanhã eu vou ao mercado, vou ao banco, vou à floresta, vou ao fim do mundo pra te ter outra vez, e enquanto puderes fugir, foge, eu não vou gritar muda, como de costume. Prometo, você vai me ouvir.
E as palavras serão ingênuas e perversas, serão estas: __ Sabe aquele alguém que chora tua inconsistência, com requintes de desejo, com tato, paladar, visão, audição e olfato, que inconsciente coleciona lençóis comprometedores e imaginários? Se não sabes e por ventura quiseres descobrir, me olha, com minúcia e desconforto, com virilidade e fome, com métodos e saliva, e irá saber, que aquele alguém, sempre, sempre, sempre... Eu. Tiara Sousa

domingo, 14 de julho de 2013

BRIGA DE CASAL

Passou. Os seus olhares já não me despem mais, sua poesia já não me furta, o seu sorriso já não me alegra, as suas palavras bonitas já não me interessam.
Passou. Aquele futuro que eu programei para ser ao seu lado, joguei fora os filmes românticos que me algemavam a tua alma preta e branca e ao teu desejo incolor e incólume.
Passou. Os seus concertos já não me desconcertam mais, sua virilidade já não me contém, o seu risco já não me excita, os seus métodos já não me incorporam.
Passou. Aquele disco antigo que eu comprei para ouvir ao seu lado, doei o romantismo que me cegava para um mendigo que implorava as dores e as sensações que eu tinha de sobra.
Passou. Não mais me interessei pelos teus modos démodés, não mais tentei achar tuas qualidades, não mais procurei a tua nobreza, deixei de acreditar em Papai Noel e voltei a ler jornais.
Passou. O amor das cartas de amor que eu escrevi e nunca enviei, as lingeries que eu comprei e vesti só pra você tirar, os raios de Sol que o guarda-Sol cobriu.
Passou. O desejo sem fim, a vontade sem meios, o gosto sem começo.
Passou. Agora tenho apenas o mundo inteiro, onde eu inteira não tento mais me encontrar em ti. Tenho apenas sorrisos de sobra, e olhares de sobra e fome de sobra de conhecer tudo o que a minha paixão me furtou, além de umas contas pra pagar e um monte de coisas bem resolvidas pra complicar.
Passou meu bem, e é pra nunca mais. Até cessar a minha ira e eu voltar a achar que é pra sempre. Tiara Sousa