Paixão
não é um mito, é o desejo ébrio dos sóbrios, é o desejo sóbrio dos ébrios, a
paixão é desmedida mesmo quando é minuciosamente medida, mesmo quando envolta
de cafés da manhã e passeios na praça, é o parentesco da química, é o desatino
do cotidiano, é fazer planos porque é natural e desconstruí-los por ser
inevitável, ainda que evitável.
Paixão
é fechar os olhos pra fugir do que sente e enxergar um rosto, é reconhecer esse
rosto na multidão, mesmo que ele nunca tenha estado lá; Paixão é uma prostituta
com amor próprio, não compreende-se nem quando se desmaterializa, nem quando
grita, nem quando cala, nem mesmo quando faz de conta.
Paixão
é a explicação para “Cinquenta tons de cinza" ser um Best Seller, é insanidade
e sanidade, é suor e nudez, é nudez e suor, é delírio e busca, é fuga e
fantasia, é lembrar 24 horas de um beijo de dois minutos que pode nem ser real,
é a ansiedade pelos minutos que virão, ainda que eles nunca venham, ainda que
eles não existam.
Paixão
é o orgasmo escapando dos órgãos e dos sentidos e lubricando-se do emocional,
não tem sentido, só é sentida as pressas e devagar, devagar e as pressas;
Paixão é o “berço esplendido” do Hino Nacional Brasileiro, é tão trágica que
chega a ser cômica, é a abominação pelas duras verdades de Maquiavel em
encontro a adoração pelas singelas mentiras de Karl Marx, ou vice-versa. É uma
cama, um lençol, um vazio, um corpo inteiro doente de desejo.
Paixão
é a cruz de Cristo, é a cruz sem Cristo, é Cristo sem a cruz, é suportar uma
tristeza profana sem as palavras sagradas, é agnóstica mesmo quando tem fé,
mesmo quando se alimenta de crenças, mesmo quando cumpre promessas e adora,
mesmo assim, é agnóstica.
A
paixão começa pelo fim, caminha pela libido, dança na mente, destrói o ego com
duas doses do próprio veneno, o egocentrismo, movimenta descuidadamente a
vaidade e termina no começo, comigo mais uma vez sentada na cama, com o
computador no colo, escrevendo algo impublicável, para tornar público. Tiara
Sousa