quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A voz de Bia


À minha tia, a cantora Bia Abdoo

A voz humana é produzida pela vibração do ar que é expulso dos pulmões pelo diafragma e que passa pelas cordas vocais e é modificado pela boca, lábios e a língua. A voz está associada à fala, na realização da comunicação verbal, e pode variar quanto à intensidade, altura, inflexão, ressonância, articulação e muitas outras características. À emissão de uma voz saudável, damos o nome de EUFONIA. A uma voz doente, ou seja, com alguma de suas características alterada, damos o nome de DISFONIA. A voz de Bia Abdoo, podemos chamar de EUFORIA (estado emocional de excitação plena).
Quando Bia nasceu provavelmente um anjo louco decidiu sair por aí roubando um pouco da voz de cada ser humano e dar a ela, talvez ele estivesse ébrio e tenha tomado isto por diversão, talvez. Embora para Bia tenha sido uma honra tal contemplação, também foi um desatino. Carregar em seus pulmões tanta poesia tem seu preço, é como se junto com a voz tenha recebido também a dor de cada um. E assim Bia cresceu, e fez jus ao presente recebido, cantou em tantos palcos, tocou tantos corações, partiu tantos outros, que até perdeu a conta, de quantas vezes fez de conta que a dor não estava ali.
E assim ela foi levando, entre palcos e paixões, filhos e boêmia, dor e poesia. E não agüentando mais a solidão trazida por sua arte, decidiu abandonar os palcos. E quanto mais o tempo passava, mais Bia se dava conta que fugir não adiantava, a voz ainda estava ali e lá iria permanecer por toda sua vida.
Então continuou a frequentar igrejas e bares atrás da resposta para pergunta que fez durante toda sua vida, porque uma voz tão linda, doce, forte, se não posso melhorar e enobrecer todos os corações da Terra. Bia retornou aos palcos, e viu o mundo ficar pequeno e os corações apertados diante de sua voz.

Tiara Sousa

domingo, 26 de dezembro de 2010

O que conheço



Não conheço essas pessoas
Que sorriem ao ver alguém tropeçar e cair
Que batem nas crianças com a bruta força da injustiça e definem correção
Que caçoam dos esquizofrênicos e dos terapêutas
E vão todos os domingos á igreja sentindo-se superior aos poetas nas mesas dos bares

Não conheço essa nova geração
Que cheira cocaína e fuma crack sem nunca ter passado fome
Que tinge os cabelos de azul e verde sem nunca ter reparado no azul do céu e no verde das árvores
que passa horas debatendo sobre sexo sem sequer mencionar o amor
E sai das salas de cinema achando que compreendeu a dor de Carandiru e Tropa de Elite

O que conheço é o medo
Dessa imagem refletida no espelho se tornar um deles
E sobretudo o medo
Do medo de nunca se tornar.

Tiara Sousa