segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os lentos

Tá tudo tão rápido que as pessoas não olham mais para o céu, que as adolescentes não rabiscam mais as carteiras da escola com os nomes dos seus namorados, que o mundo não aceita mais as rebeldias como manifestações da juventude, que a lua não mais empolga os amantes. Tá tudo tão rápido que as ondas do mar não são mais capazes de quebrar o silencio, pois não há mais silencio.
As cidades estão cheias de engarrafamentos, as filas do cinema estão maiores que a arte dos filmes, os celulares chamam sem parar a ponto de não dá mais tempo de sentir saudade, os cheiros passam despercebidos, os olhares insinuam mas não inspiram e os sorrisos são sempre mal interpretados e olha que um sorriso é das coisas mais belas desse mundo.
Os lentos não acompanham muito bem esses novos tempos, são motivo de graça e impaciência, imagina só, a economia mundial abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das eleições, o engarrafamento, as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência, as festas e os lentos lá, sentados na praia olhando o mar, nos cinemas chorando em finais de filmes, andando devagar pois sabem que chegarão ao seu destino, falando pouco pois sabem que cedo ou tarde as palavras certas serão ditas, e sentindo rápido, intensamente e desesperadamente, pois sentir para os lentos nunca é lento e é sempre maior.
Tá mesmo tudo tão rápido que as pessoas encontram amores e não param pra dizer um oi, sabe, aquele oi que iria bagunçar tudo, pois é, as pessoas não param pois estão atrasadas pra uma reunião, ou tem uma aula, ou tem milhões de coisas pra fazer. Tá tudo tão rápido que os corações não aceleram, que o romantismo ficou démodé, que a chuva é sempre rotulada como inoportuna e as gentilezas há muito deixaram de gerar gentileza, afinal quem tempo de ser gentil.
Mas e se parássemos de correr e começássemos a caminhar, a sentir o cheiro das coisas, o gosto dos beijos, o toque do encantador. E se apreciássemos as vistas, perguntássemos aos outros como eles vão, não apenas disséssemos bom dia, mas sobretudo desejássemos bom dia, eu não sei, mas acho que se assim fosse as pessoas seriam mais felizes, as sociedades mais justas, os corações mais leves.
Mas enquanto isso não acontece, os lentos continuam não acompanhando muito bem esses novos tempos, continuam sendo motivo de graça e de impaciência, mas imagina só, com a economia mundial abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das eleições, o engarrafamento, as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência, as festas, quem será mais feliz os acelerados tão engajados e envolvidos em todo esse processo estressante ou os lentos sentados na praia olhando o mar.
Tiara Sousa

4 comentários:

isoldinha disse...

Simplesmente surpreendente e revelador, esse texto nos mostra que as vezes é melhor ser lento e aproveita melhor a vida!!! <3

Alternativo disse...

É exatamente isso Isolda, não apenas aproveitar a vida, mas sobretudo entendê-la, percebê-la e senti-la.

Alternativo disse...

Valeu a todos os leitores deste blog que fizeram desta postagem a 3ª mais visualizada até este momento.

Alternativo disse...

Agora deixa de ser a 3ª mais visualizada e passa a ser a 1ª. Valeu leitores do blog!