Tá tudo tão rápido que as pessoas
não olham mais para o céu, que as adolescentes não rabiscam mais as carteiras
da escola com os nomes dos seus namorados, que o mundo não aceita mais as
rebeldias como manifestações da juventude, que a lua não mais empolga os
amantes. Tá tudo tão rápido que as ondas do mar não são mais capazes de quebrar
o silencio, pois não há mais silencio.
As cidades estão cheias de
engarrafamentos, as filas do cinema estão maiores que a arte dos filmes, os
celulares chamam sem parar a ponto de não dá mais tempo de sentir saudade, os
cheiros passam despercebidos, os olhares insinuam mas não inspiram e os
sorrisos são sempre mal interpretados e olha que um sorriso é das coisas mais
belas desse mundo.
Os lentos não acompanham muito
bem esses novos tempos, são motivo de graça e impaciência, imagina só, a
economia mundial abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das
eleições, o engarrafamento, as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência,
as festas e os lentos lá, sentados na praia olhando o mar, nos cinemas chorando
em finais de filmes, andando devagar pois sabem que chegarão ao seu destino,
falando pouco pois sabem que cedo ou tarde as palavras certas serão ditas, e
sentindo rápido, intensamente e desesperadamente, pois sentir para os lentos nunca
é lento e é sempre maior.
Tá mesmo tudo tão rápido que as
pessoas encontram amores e não param pra dizer um oi, sabe, aquele oi que iria bagunçar
tudo, pois é, as pessoas não param pois estão atrasadas pra uma reunião, ou tem
uma aula, ou tem milhões de coisas pra fazer. Tá tudo tão rápido que os
corações não aceleram, que o romantismo ficou démodé, que a chuva é sempre
rotulada como inoportuna e as gentilezas há muito deixaram de gerar gentileza,
afinal quem tempo de ser gentil.
Mas e se parássemos de correr e começássemos
a caminhar, a sentir o cheiro das coisas, o gosto dos beijos, o toque do encantador.
E se apreciássemos as vistas, perguntássemos aos outros como eles vão, não
apenas disséssemos bom dia, mas sobretudo desejássemos bom dia, eu não sei, mas
acho que se assim fosse as pessoas seriam mais felizes, as sociedades mais
justas, os corações mais leves.
Mas enquanto isso não acontece,
os lentos continuam não acompanhando muito bem esses novos tempos, continuam
sendo motivo de graça e de impaciência, mas imagina só, com a economia mundial
abalada, a sociedade pegando fogo com a proximidade das eleições, o engarrafamento,
as filas, o estresse, os dependentes químicos, a violência, as festas, quem
será mais feliz os acelerados tão engajados e envolvidos em todo esse processo
estressante ou os lentos sentados na praia olhando o mar.
Tiara Sousa
4 comentários:
Simplesmente surpreendente e revelador, esse texto nos mostra que as vezes é melhor ser lento e aproveita melhor a vida!!! <3
É exatamente isso Isolda, não apenas aproveitar a vida, mas sobretudo entendê-la, percebê-la e senti-la.
Valeu a todos os leitores deste blog que fizeram desta postagem a 3ª mais visualizada até este momento.
Agora deixa de ser a 3ª mais visualizada e passa a ser a 1ª. Valeu leitores do blog!
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