Passou. Os seus olhares já
não me despem mais, sua poesia já não me furta, o seu sorriso já não me alegra,
as suas palavras bonitas já não me interessam.
Passou. Aquele futuro que eu
programei para ser ao seu lado, joguei fora os filmes românticos que me
algemavam a tua alma preta e branca e ao teu desejo incolor e incólume.
Passou. Os seus concertos já
não me desconcertam mais, sua virilidade já não me contém, o seu risco já não
me excita, os seus métodos já não me incorporam.
Passou. Aquele disco antigo que
eu comprei para ouvir ao seu lado, doei o romantismo que me cegava para um
mendigo que implorava as dores e as sensações que eu tinha de sobra.
Passou. Não mais me
interessei pelos teus modos démodés, não mais tentei achar tuas qualidades, não
mais procurei a tua nobreza, deixei de acreditar em Papai Noel e voltei a ler
jornais.
Passou. O amor das cartas de
amor que eu escrevi e nunca enviei, as lingeries que eu comprei e vesti só pra
você tirar, os raios de Sol que o guarda-Sol cobriu.
Passou. O desejo sem fim, a
vontade sem meios, o gosto sem começo.
Passou. Agora tenho apenas o
mundo inteiro, onde eu inteira não tento mais me encontrar em ti. Tenho apenas
sorrisos de sobra, e olhares de sobra e fome de sobra de conhecer tudo o que a
minha paixão me furtou, além de umas contas pra pagar e um monte de coisas bem
resolvidas pra complicar.
Passou meu bem, e é pra
nunca mais. Até cessar a minha ira e eu voltar a achar que é pra sempre. Tiara
Sousa
2 comentários:
Profundo...
Será que tudo passa mesmo? Eis o mistério de nossas vidas!!!
Parabéns Tiara!!!
Obrigada!!! Creio que mesmo o que passa, fica, de algum modo, em algum lugar.
Postar um comentário