domingo, 9 de dezembro de 2012

Dezembro


Os turistas chegam na cidade, enquanto eu procuro nas agendas antigas um motivo pra partir. Esses casarões coloniais já não dizem tanto, é o fim do ano, é o fim de mais um ano. Acabaram-se as palavras, e eu suplico as palavras para o teto, para a cama, para o céu, para a fotografia antiga, para a dor do outro que dói tanto em mim quanto nele. Mais um ano acaba, os anos acabam, as paixões acabam, as dores acabam, nós acabamos, o vestido que comprei  antes de ontem irá acabar um dia, o fim está em tudo, em todos os lugares, em todos os móveis, num beijo que você deu há anos atrás sem imaginar que seria o ultimo beijo que daria naquela pessoa, o fim está em nós.
Debaixo dos lençóis, os amantes se concedem o momento que nunca é eterno como nos sonhos e o céu chora e chove o orgasmo dos passados, recentes e futuros corações partidos, sempre tem mais corações partidos em dezembro. Por que Janeiro não chega logo para podermos começar novamente? Porque? A vida é uma incógnita diante de tanto desamor, já que ninguém conhece mais a vida do que o amor, ele conhece a vida, pois a vida é um sintoma do amor e o amor é um sintoma nosso. Quem já chorou o choro de outra pessoa sabe que chorar o choro de outra pessoa é mais insensato do que chorar a falta da mesma, e já choramos tanto a falta, que a falta sobra, a falta escorre, a falta é a psicose natural, mas a dor do outro doendo dentro da gente é lindo, é triste e é finito, pois o fim está em tudo, em todos os lugares, em todos os móveis, num beijo que você deu há anos atrás sem imaginar que seria o ultimo beijo que daria naquela pessoa, o fim está em nós.
Dezembro é solitário, ainda que animado, o animo transpira solidão. Dezembro é uma janela se fechando, somos nós analisando o que aconteceu, o que não aconteceu, o que feriu, o que mudou, o que passou, o que ficou. Dezembro é a mãe do presidiário sendo revistada num dia de visitas, é o relacionamento que acabou, é a frase não dita e engasgada , é a frase dita e arrependida, é a imagem de 365 pores do Sol. Dezembro é o fim temido, é o fim aguardado, é o fim concedido, é o fim constatado, é o fim em tudo, em todos os lugares, em todos os móveis, num beijo que você deu há anos atrás sem imaginar que seria o ultimo beijo que daria naquela pessoa, é o fim em nós, é a chegada dos turistas na cidade, enquanto eu procuro nas agendas antigas um motivo pra partir. Tiara Sousa


2 comentários:

Anônimo disse...

Continuo sem entender...

Alternativo disse...

Terá de viver com isso. Sorte na vida!