Estamos todos assim, perdidos, ser
adulto dói mais a cada ano... E caminhamos, caminhamos, muitas vezes esquecemos
de sentir, n’outras sentimos demais. Tantas, tantas vezes caminhamos pra não chegar
e não chegar é como nunca ter ido, é sentir-se estático no tempo. Não sorriam para
mim hoje, amanhã talvez, porém hoje não, hoje meu coração está pendurado no
varal, hoje eu tento compreender a vida e tenho a impressão que fiz tudo
errado, acho que muitos sentem-se assim, confusos, inseguros, sensatos ou
insensatos demais.
Eu sinto falta daquele frio na
barriga, daquele desejo imenso, do irresistível, do inapropriado, do
inconsequente, eu sinto falta da pureza, da inocência, da descoberta, eu sinto
falta do Sol, mesmo quando está Sol. Eu já fiz as malas, eu já parti, sei que
já parti mesmo estando aqui, eu sei que estando aqui já não significa nada. Eu
não leio mais jornais, eu escrevo pra jornais, mas não os leio mais, a
curiosidade é a minha roupa velha, amontoada numa sacola velha, eu não a uso
mais.
Estamos todos assim, perdidos, ser
adulto dói mais a cada ano... Nós sonhamos, mas não como antes, sonhamos de
olhos abertos, mas não como antes, sonhamos acompanhados e sós, mas nunca como
antes, porque antes não é agora, antes não volta, antes não tem conserto. Não venham
me falar da beleza da vida nesta fase da minha vida, deixem seus salmos, seus
conselhos, seu otimismo em casa, pois nesta fase da vida eu só preciso de um
copo de leite e um comprimido pra dormir, nesta fase da vida eu só preciso de
um analgésico e tempo, nesta fase da vida eu só preciso de uma música mais alta
que o meu pensamento.
Eu quero silencio, mas atualmente eu
só consigo silencio gritando por silencio, eu quero mais natureza e menos tecnologia,
e mais do que tudo quero um, apenas um motivo que me faça chorar, após algum
tempo chorar fica cada vez mais difícil, nós acabamos por nos habituar ao sofrimento,
nos habituamos tanto a ponto de sofrê-los friamente. Meu coração está inteiro,
eu é que estou pela metade e estar pela metade é não estar.
Estamos todos assim, perdidos, ser adulto
dói mais a cada ano... Eu sei mais do que as crianças, eu sei mais do que os
adolescentes, mas tudo que eu quero e preciso é saber menos e menos e menos. Eu
não tenho mais 20 anos, mas também ainda não tenho 30, tudo que eu tenho é
pressa, insônia, compromisso, obrigação, responsabilidade, dor de cabeça. Ainda
tenho vontade de mudar o mundo, mas acordo todos os dias cansada demais pra
isso, sem tempo nenhum pra isso, sem animo nenhum pra isso e isso é tão
abominável que definitivamente eu sei, eu realmente sei, que ser adulto dói
mais, e mais, e mais a cada ano. Tiara Sousa
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