domingo, 19 de outubro de 2014

EMOCIONALMENTE INSTÁVEL

Não me leve a mal. Eu não tô bem. Há algo no desenho do livro. Aquele buraco na parede sempre esteve ali ou é só que agora ele tá me incomodando? Porque meu estômago dá tantas voltas em torno de mim? O que eu preciso é não lavar a roupa suja; Quero jogar todas as roupas sujas no lixo e seguir nua e descalça numa realidade paralela e imperfeita, mas ao meu gosto. Por que só o meu gosto é amargo e agridoce e doce e azedo, porque somente eu tenho me aguentado.
Nada demais. São só as tolices de sempre. É só a minha generosidade brigando com o meu egoísmo, eles saem na rua e brigam de faca, são milhares de investidas divididas em milésimos de segundos, mas nenhum deles se corta, só eu saio ferida, com sangue espalhado pelo corpo e escorrendo pelos olhos. Só eu realmente me machuco. Porque se há uma semana eu era pouco pra mim, agora eu sou demais.
Uma hora risos e saudade, noutra choros e acusações, e a eterna dúvida se eu tô errada. Será que é isso mesmo? Eu tô sempre errada. Eu sou tão mau assim. Será que o mundo melhor com que sonhei a vida inteira não me cabe? Ou será que isso tudo é só dor e dor não tem medida. E dor é pra doer.
Oscilações de humor. Doses de mim espalhadas pela casa. Da janela observo... O cara atravessa a rua e não vê que a rua é só uma passagem, temos contas a acertar com os dias nublados e perdão para cada dia ensolarado em que saímos trancados dentro de nós. Em que humor isso encaixa?
Quem somos no meio de tudo isso? Adultos que cortejam fantasias? Pessoas com pressa e pudor? Algozes de súbitas consciências? Somos os personagens mais profundos dos nossos próprios contos, protagonistas num palco vazio, uma plateia de dúvidas travestidas de certezas, ou a lembrança das crianças que corriam pela casa.
É uma mala pesada o passado, por que o que passa fica, se impregna no nosso corpo e se enjaula em nós. Lembranças de beijos nos assombram e tudo desmorona por aqui. Tenho algumas ressalvas entre a loucura e a dor. Prefiro a loucura. Mas cavo a dor.
E esses tempos andam estranhos, talvez porque eu sempre tenha sido como os poetas sem potencial lírico, ou como os românticos vazios caminhando por esquinas escuras em busca de dores maiores que as deles.
Necessito de sentido. Mas tudo é tão estranho depois que descobrimos algumas coisas. Os namorados nas praças no fim de tarde já me parecem tão tolos. Será que é assim mesmo? Que a medida que os anos vão passando tudo vai perdendo a graça?
Abro o meu e-mail... Mais alguém pra me dizer que não entendeu nada do meu último texto. Que as minhas palavras mais comuns soaram estranhas e que as mais cultas se popularizaram demais dentro das frases. Eu então respondo, sem humor nenhum e com todo o humor do mundo: Cada um se carrega, é assim que a gente segue, é assim que aguentamos as coisas que supomos que não íamos aguentar, é assim que levantamos e percorremos os caminhos escuros, é assim que compomos canções pra alguém ouvir exatamente como ouvimos, ou sentir do modo como sentimos. Mas sempre vai ter um pra dizer que não, não sentiu dessa forma. Espero que também não compreenda dessa vez, mas que sinta, exatamente como senti, se for possível. E não me leve a mal. Eu não tô bem. Tenho andado emocionalmente instável. Tiara Sousa

Nenhum comentário: