Não
me leve a mal. Eu não tô bem. Há algo no desenho do livro. Aquele buraco na
parede sempre esteve ali ou é só que agora ele tá me incomodando? Porque meu estômago
dá tantas voltas em torno de mim? O que eu preciso é não lavar a roupa suja; Quero
jogar todas as roupas sujas no lixo e seguir nua e descalça numa realidade
paralela e imperfeita, mas ao meu gosto. Por que só o meu gosto é amargo e
agridoce e doce e azedo, porque somente eu tenho me aguentado.
Nada
demais. São só as tolices de sempre. É só a minha generosidade brigando com o
meu egoísmo, eles saem na rua e brigam de faca, são milhares de investidas
divididas em milésimos de segundos, mas nenhum deles se corta, só eu saio
ferida, com sangue espalhado pelo corpo e escorrendo pelos olhos. Só eu
realmente me machuco. Porque se há uma semana eu era pouco pra mim, agora eu
sou demais.
Uma
hora risos e saudade, noutra choros e acusações, e a eterna dúvida se eu tô
errada. Será que é isso mesmo? Eu tô sempre errada. Eu sou tão mau assim. Será
que o mundo melhor com que sonhei a vida inteira não me cabe? Ou será que isso
tudo é só dor e dor não tem medida. E dor é pra doer.
Oscilações
de humor. Doses de mim espalhadas pela casa. Da janela observo... O cara atravessa
a rua e não vê que a rua é só uma passagem, temos contas a acertar com os dias
nublados e perdão para cada dia ensolarado em que saímos trancados dentro de
nós. Em que humor isso encaixa?
Quem
somos no meio de tudo isso? Adultos que cortejam fantasias? Pessoas com pressa
e pudor? Algozes de súbitas consciências? Somos os personagens mais profundos
dos nossos próprios contos, protagonistas num palco vazio, uma plateia de
dúvidas travestidas de certezas, ou a lembrança das crianças que corriam pela
casa.
É
uma mala pesada o passado, por que o que passa fica, se impregna no nosso corpo
e se enjaula em nós. Lembranças de beijos nos assombram e tudo desmorona por
aqui. Tenho algumas ressalvas entre a loucura e a dor. Prefiro a loucura. Mas
cavo a dor.
E
esses tempos andam estranhos, talvez porque eu sempre tenha sido como os poetas
sem potencial lírico, ou como os românticos vazios caminhando por esquinas
escuras em busca de dores maiores que as deles.
Necessito
de sentido. Mas tudo é tão estranho depois que descobrimos algumas coisas. Os
namorados nas praças no fim de tarde já me parecem tão tolos. Será que é assim
mesmo? Que a medida que os anos vão passando tudo vai perdendo a graça?
Abro o meu e-mail...
Mais alguém pra me dizer que não entendeu nada do meu último texto. Que as
minhas palavras mais comuns soaram estranhas e que as mais cultas se
popularizaram demais dentro das frases. Eu então respondo, sem humor nenhum e
com todo o humor do mundo: Cada um se carrega, é assim que a gente segue, é
assim que aguentamos as coisas que supomos que não íamos aguentar, é assim que
levantamos e percorremos os caminhos escuros, é assim que compomos canções pra
alguém ouvir exatamente como ouvimos, ou sentir do modo como sentimos. Mas
sempre vai ter um pra dizer que não, não sentiu dessa forma. Espero que também
não compreenda dessa vez, mas que sinta, exatamente como senti, se for possível.
E não me leve a mal. Eu não tô bem. Tenho andado emocionalmente instável. Tiara
Sousa
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