domingo, 18 de março de 2012

O novo tempo fútil

E quem diria que esse tempo iria chegar, o tempo em que os jovens beijam pra sentir tesão, um tempo de amores presos e sexo livre, de dores recolhidas e sensibilidades intactas por falta de uso. Quem diria que esse tempo chegasse, um tempo em que pais não lêem mais contos de fadas a seus filhos, com medo deles vislumbrarem o amor, um tempo onde os terapeutas do momento são sexológos e familias se formam não por uma necessidade, mas por uma obrigação, tempo de políticas injustas e protestos escassos. Esse tempo chegou, como um barco parado no cais, como a corrente sobre o portão, como a fome que não é fome, é só vontade de comer. Aquela idéia de amor livre ficou para trás, o tesão sentido antes do beijo também, até a dor infinita de um segundo ou um século, a paixão desmedidade de Romeu e Julieta e o sonho, que de tão sonhado, era proclamado e acreditado e real. Mas fazer o que, se hoje os jardins não são mais tão importantes, se as redes sociais acabaram com o mistério da sedução, e ninguém mais espera cartas de amor do carteiro, que só sabe trazer contas. Então façamos nada, o que agora é mesmo comum, que a natureza sofra, que o sentimento suma, que o envolmimento corra, esse é o tempo de fazer nada, um tempo em que ter 20 ou 70 anos, tanto faz, é tudo igualmente ocioso, novidades são para jornais, tudo que esperam da vida, esperam, de inusitado só ficou o ritmo das ondas do mar, a intensidade da chuva, e os loucos, que presos já não tem mais voz. O tempo dos livres já foi, foi com Shakeaspeare, Che Guevara, Cazuza, Renato Russo, Cartola, Noel Rosa, Ray Charles, Olga Benário, Anita Garibaldi, foi e se voltou, voltou escondido numa geração que se esconde, por que é tudo que sabe e aprendeu como belo. O novo tempo tem muitos decotes e pouco feminismo, tem muitos amantes e pouca paixão, tem muita solidão e pouco poema, o novo tempo é a fútil juventude, a fútil internet, a fútil proteção e corações escondidos de medo do que não é fútil e nem familiar. Contemplem o seu tempo ou mudem-o! Esse era pra ser o tempo em que o sexo seguro é o com camisinha, mas torna-se o tempo em que o sexo seguro é o sem amor. Que tempo fútil, que jovens medrosos, que sonhos guardados, que medos grandiosos, que vontade de ter vivido há anos e anos atrás. Tiara Sousa

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