terça-feira, 17 de abril de 2012

Filhos

Dedicado a Ian
Se amar tanto é desacato, desacatei todas as leis do mundo quando você nasceu, tirei do primeiro lugar meus modos, e sonhos e anseios e coloquei os modos, sonhos e anseios teus. Voltei a acreditar em contos de fada, papai Noel e coelhinho da páscoa para que nem nas crenças você se sentisse só. Fui médica, índia, curandeira , cientista, para curar doenças, que ainda que habitassem o seu corpo, destruíam meu coração. Sei que falei e esbravejei com você tanto quanto com o mundo, é que não eram os recados da professora, a bagunça na casa, a premonição da queda, as notas no boletim, as más companhias, a teimosia, sempre foi o mundo que não estava preparado pra te receber, e naquelas broncas, era com o mundo que eu brigava. Se amar tanto é loucura, enlouqueci por toda a humanidade quando você nasceu, fui poeta só de observar o teu sorriso, teu andar e teu jeito de falar , fui astronauta quando você se interessou pelos planetas, fui criança quando você não tinha ninguém pra brincar, fui adulta pra segurar tua mão e te mostrar os caminhos mais seguros, fui imperfeita, por ainda assim continuar apenas uma humana qualquer capaz de falhar, e falhei, falho, peço perdão por não acertar sempre. Fui mãe, amiga e a chata da história se isso te trouxesse segurança. Passei noites inconformada por não poder invadir teu sono e tirar os pesadelos, por não poder adoecer no teu lugar, ou adquirir tuas decepções só para mim. Nunca precisei me esforçar pra amar você tanto assim, a ponto de amar mais do que a mim ou que qualquer outra beleza que não fosse a tua, te amar é como caminhar, falar, sentir, respirar. Se amar tanto é invenção, inventei o amor quando você nasceu e nunca, nunca mais deixei de acreditar no amor que eu mesma inventei. Tiara Sousa

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