Amamos
o chão em que pisamos, os caminhos que percorremos, os amores que encontramos,
e antes de tudo isso já amávamos o chão em que não pisamos, os caminhos que não
percorremos, os amores que não encontramos. Sinto dizer, e como sinto... Mas o amor
não é o delírio presente nos poemas, nem a revolta situada na ausência, nem a
ansiedade transitando nos corpos, o nome disso é paixão. O amor é a primeira
coisa que o cego gostaria de ver, a primeira palavra que o mudo gostaria de
falar, a primeira música que o surdo gostaria de ouvir, é tudo o que as cartas não
conseguiram descrever. O amor são os amigos que estão sempre ali, mas um dia
podem não estar e não estando ainda estarão de alguma maneira, é a proteção da família
que um dia pode não conseguir proteger mas sempre vai tentar, é gostar
gratuitamente e tanto e não ter a dimensão do que significa gostar
gratuitamente e tanto, de tanto gostar. O amor é querer bem, mais do que querer
perto, mais do querer certo, mais do que querer junto e isso é tão nobre que
até parece ilusão.
Amamos
as ruas que de tão nossas, nunca foram nossas, amamos os abraços, aqueles que
de tão confortantes nem estão nas fotografias, amamos as bocas que ainda iremos
beijar, o tesão que ainda iremos sentir, e antes de tudo isso amamos saber que
amaremos mais do que amávamos os abraços que já demos, as bocas que já
beijamos, o tesão que já sentimos, porque somente o amor pode vir antes de tudo
isso ainda que venha depois, por que somente o amor ainda vai querer bem quando
os abraços não estiverem ao alcance dos braços, quando os beijos não forem mais
novidade, quando o tesão passar. Sinto dizer, e como sinto... Mas o amor não é
o desespero da dúvida, nem a impulsividade do desejo, nem a tristeza profunda e
temporal, o nome disso é paixão. O amor é aquela frase engasgada que precisamos
tanto falar e não falamos pra não magoar, o amor é respeitar tanto alguém a
ponto de agir como se esse alguém estivesse sempre ao lado ainda que esteja a
quilômetros de distancia, o amor é sentir-se em casa ao ouvir uma determinada
voz, é se comunicar através de olhares, é se compreender. O amor é se preocupar
mais do que precisa, é precisar muito, mais ainda assim precisar menos do que
se preocupa e isso é tão nobre que até parece ilusão.
Gostamos
da procura, da indagação, da atitude, do mistério, do perigo, porém não amamos
nada disso, nós amamos mesmo é o encontro, é o familiar, é a naturalidade, é a
clareza, é a segurança. Devo admitir que há paixão num tipo de amor (o amor
romântico), porém sinto dizer, e como sinto... Que quando é amor, ama-se antes,
ama-se durante e ama-se depois, só durante é só paixão, quando é amor a dor não
corrompe transformando em ódio, se corrompe, é só paixão, quando é amor não é
egoísta, se é, é só paixão, quando é amor cuida-se e não apropria-se, pois se crê-se
dono(a) é só paixão. O amor é poder dizer tudo e é poder dizer nada, o amor é
poder fazer tudo e é poder fazer nada, é simples e é grande como sentir. O amor
é inconscientemente de extrema consciência, é ir a um jardim e encontrar rosas
que vai se regar sempre, se querer sempre, se admirar sempre, mesmo quando perderem
o perfume, mesmo quando murcharem, mesmo quando não estiverem, e isso é tão
belo, tão puro, tão nobre que até parece ilusão. Tiara Sousa
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