Dizer não às vezes é fácil, é natural e genuíno, ás vezes, só
às vezes, pois outras vezes dizer não dói como a fome e a fome dói mais do que
a vontade, a fome é a vontade elevada à necessidade, a fome é a falta elevada a
consciência. Eu não quero dizer não, mas eu preciso; Eu não preciso dizer não,
mas eu tenho. A dúvida é o fim da linha, a linha é o começo da agonia, a agonia
é o fantasma da moral.
Dizer não querendo dizer sim é uma coisa estranha, dizer não
precisando dizer sim é também uma coisa estranha, dizer não para alguém por
quem se está apaixonado é a tortura da ditadura militar, é o militar da
ditadura militar, são os olhos tristes das mulheres de Atenas, é a submissão
das mulheres de Atenas, é o discurso de Hitler sendo aplaudido, é a mente de
quem aplaude o discurso de Hitler, é o conhecimento ignorante, é a ignorância
conhecida, é infame.
Entender um não é difícil, aceitar um não é exageradamente
difícil, dizer um não contra a vontade, contra o sentimento, contra a
expectativa é o exílio, é como ser insultado por quem sonhou ser elogiado,
dizer não é a costa leste, é a costa oeste, é a bandeira de outro país, é fazer
amor sem amor, é amar sem fazer amor, é anulação, é ilusão.
Gostar e ser gostado, falar e ser ouvido, sentir e ser
sentido, é lindo, é voluntário, é nobre. Dizer não para quem gosta, para quem
ouve, para quem sente é um palavrão na boca de uma criança, é o reflexo de um
desfigurado, é o conformismo de um comunista, é a anarquia usando grife, é
mentira.
Dizer não enquanto a mente exclama um sim, enquanto o coração
clama um sim, enquanto as cordas vocais exigem um sim é bravo, é corajoso, é
intimo, é triste. É uma boca implorando outra boca, é uma vontade implorando
outra vontade, é um corpo implorando outro corpo, é a audição querendo, a visão
querendo, o tato querendo, o olfato querendo, o paladar querendo e você ter que
dizer não. NÃO. Tiara Sousa
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