domingo, 4 de novembro de 2012

Dizer não


Dizer não às vezes é fácil, é natural e genuíno, ás vezes, só às vezes, pois outras vezes dizer não dói como a fome e a fome dói mais do que a vontade, a fome é a vontade elevada à necessidade, a fome é a falta elevada a consciência. Eu não quero dizer não, mas eu preciso; Eu não preciso dizer não, mas eu tenho. A dúvida é o fim da linha, a linha é o começo da agonia, a agonia é o fantasma da moral.
Dizer não querendo dizer sim é uma coisa estranha, dizer não precisando dizer sim é também uma coisa estranha, dizer não para alguém por quem se está apaixonado é a tortura da ditadura militar, é o militar da ditadura militar, são os olhos tristes das mulheres de Atenas, é a submissão das mulheres de Atenas, é o discurso de Hitler sendo aplaudido, é a mente de quem aplaude o discurso de Hitler, é o conhecimento ignorante, é a ignorância conhecida, é infame.
Entender um não é difícil, aceitar um não é exageradamente difícil, dizer um não contra a vontade, contra o sentimento, contra a expectativa é o exílio, é como ser insultado por quem sonhou ser elogiado, dizer não é a costa leste, é a costa oeste, é a bandeira de outro país, é fazer amor sem amor, é amar sem fazer amor, é anulação, é ilusão.
Gostar e ser gostado, falar e ser ouvido, sentir e ser sentido, é lindo, é voluntário, é nobre. Dizer não para quem gosta, para quem ouve, para quem sente é um palavrão na boca de uma criança, é o reflexo de um desfigurado, é o conformismo de um comunista, é a anarquia usando grife, é mentira.
Dizer não enquanto a mente exclama um sim, enquanto o coração clama um sim, enquanto as cordas vocais exigem um sim é bravo, é corajoso, é intimo, é triste. É uma boca implorando outra boca, é uma vontade implorando outra vontade, é um corpo implorando outro corpo, é a audição querendo, a visão querendo, o tato querendo, o olfato querendo, o paladar querendo e você ter que dizer não. NÃO. Tiara Sousa

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