domingo, 11 de novembro de 2012

Nenhum deles era você


Preparem-se para ler a mais bela, doce e meiga história já postada neste blog...

Quase um ano se passou desde aquele quase romance, ou sei lá que nome dou àquilo, flerte prolongado, paixão tímida, sintonia perfeita, não sei. Quase um ano organizando a desorganização rotineira que se tornou a minha vida e aí você reaparece, com esse jeito cínico achando que pode bagunçar a minha cabeça quando quiser, se achando o tal, quem você pensa que é? Será que você acha que eu vou estar sempre aqui disponível, que nada aconteceu nesses últimos tempos, que eu não conheci ninguém? Eu conheci. Devo ter tido, sei lá, uns vinte encontros, com uns seis caras diferentes, só não deu certo. Um era lindo, a cara de um ator aí que eu não lembro o nome, trabalhava no banco como gerente, tinha uns olhos hipnotizantes, castanhos, graúdos, dava até pra se perder naquele olhar e só não aconteceu nada de mais sério, porque ele tinha o péssimo hábito de rir de tudo que eu falava e cada vez ele ria eu percebia que a risada dele não era como a sua e aí eu desencantava. Teve um outro que era tão obcecado pelo mar quanto eu, nós tínhamos a mesma mania de sentar à beira-mar só pra ficar olhando aquela beleza toda, e eu gostei tanto disso que quase fui pra cama com ele no terceiro encontro, e ele beijava bem, mas nos beijamos tantas vezes que deu tempo de eu perceber que ele nunca ia beijar como você, aí eu caí fora, voltei a contemplar sozinha a beleza do mar. Ah e ainda teve o carinha que eu conheci no shopping, veja só que inusitado encontrar  um cara tão livre, politizado, de bom gosto pra filmes, músicas e livros num shopping, só comigo mesma pra essas coisas acontecerem. Eu comecei a conversar com ele e pensei, se eu deixar ele escapar eu serei a maior idiota do século, pois eis aqui a maior idiota do século, porque eu deixei, porque depois de, sei lá, umas duas horas conversando, eu percebi que ele não falava como você, e aí fui eu que falei, falei até logo, e nunca mais voltei a vê-lo. Daí passei uns dois meses só, devo ter saído com mais uns dois depois disso, não lembro muito bem o que despertou meu interesse por eles, só lembro mesmo que um deles não andava como você e o outro, bem, o outro não olhava como você e não olhar como você soava como um desacato. Então resolvi ficar com um carinha do passado, um que já existia antes de você, é, eu sei, foi mesmo um pouco de apelação, é um ex-namoradinho de adolescência, sabe, reencontro depois de anos, foi legal, o redescobri como um homem maduro, atrevido, que pegava de um jeito, e devo admitir, com esse eu transei, só pra saber se com o tempo ele melhorou em tudo mesmo, e gostei, aprovei, mas aí depois de algumas tórridas semanas de sexo e passeios, finalmente aquele momento de constatar se eu estava apaixonada, então eu lembrei que eu não cheguei a transar com você e fugi dele com mais de mil, ele não podia continuar tendo o que você não teve, ele não era você, nenhum deles era você. É, sei, talvez você não tenha entendido muito bem porque eu não transei com você, já que só você dava risada como você, já que só você beijava como você, já que só você falava, andava e olhava como você, já que só você era você. Não é que eu seja puritana, sabe, nunca tive aptidão pra promiscuidade, mas puritana também nunca fui, nem que eu não quisesse me entregar completamente a você, ah, eu quis tanto, quis com a cabeça, com o corpo, com a língua, com as mãos, com os olhos, e continuo querendo com tudo isso. Mas é que eu já tinha passado por poucas e boas quando te conheci e fiquei morrendo de medo de que depois que acontecesse, eu ainda quisesse com a cabeça, com o corpo, com a língua, com as mãos, com os olhos e que eu quisesse mais, e que eu quisesse pra sempre, e que eu quisesse sozinha. Eu sei, devia ter arriscado, mas eu nem sabia, ainda não sei como fazer isso depois das tantas coisas que eu vivi e senti, eu já tinha sentido dor antes de você, doeu tanto e tão devagar, que me tornei covarde, mas quando você apareceu e aconteceu na minha vida, eu fui escapando do que eu previ que seria uma nova dor, só que maior e ainda mais abominável que qualquer dor que eu já tivesse sentido, que qualquer um já tivesse sentido, uma dor estranha, e íntima, e agonizante e ainda mais estranha, e ainda mais íntima, e ainda mais agonizante , e então fingi que não sentia desejo, e passar a desejar somente o que eu pudesse imaginar me pareceu mais seguro. Mas não consegui superar assim de uma hora pra outra, só agora estava passando essa saudade daqueles três meses em que nos víamos todos os dias e nos víamos inteiramente porque quando estávamos juntos éramos muito autênticos e o curto tempo em que nos conhecíamos não mascarava nossas personalidades, juntos éramos nós e ser nós foi a coisa mais singela, meiga e divertida que já me aconteceu. Será que foi só uma amizade colorida, será que foi um romance preto e branco, será que aconteceu da forma como eu me lembro ou eu estou fantasiando, não sei, mas estava mesmo mais fácil, já que você sumiu e eu tinha que passar os dias te esquecendo, ou fingindo que te esquecia. Só que agora, logo agora que estava tudo indo bem, eu estudando, trabalhando, batendo papo por aí, finalmente te superando, você reaparece, com esse jeito cínico achando que pode bagunçar a minha cabeça quando quiser, se achando o tal. Quem você pensa que é? Será que você acha que eu vou estar sempre aqui disponível, que nada aconteceu nesses últimos tempos, que eu não conheci ninguém? Eu conheci, só que nenhum deles dava risada como você, nenhum deles beijava como você, nenhum deles falava, andava e olhava como você, só que nenhum deles era você. Tiara Sousa

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