“O poeta é um fingidor. Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”
Fernando Pessoa
Faltou um “S” no meu texto
passado, sobraram crases no retrasado, sempre sobram vírgulas, sempre faltam
pontos, tantas vezes coloco “O” onde deveria pôr um “A”, ou “A” onde deveria pôr
um “O”, uso acentos em letras erradas, uso palavras antigas para falar de
sentimentos novos, uso palavras novas para falar de velhos amores, exclamo com
ponto de interrogação, interrogo com ponto final, cometo erros ortográficos e
cometo erros não ortográficos. Acordo todos os dias prometendo não os cometer
novamente, e novamente os cometo.
O discurso dos meus textos é
a falta de proteção do menor abandonado, é o ciúme do homem inseguro, é a fome dos
que vivem abaixo da linha da pobreza, é o medo que as crianças tem do escuro, é
o amor que a esposa tem pelo companheiro de tantos anos, é a experiência
adquirida pela maturidade, é tudo o que desconheço. O meu discurso é ilusão, é
imaginação, é fingimento, é revolta, é filosofia de botequim. Só os meus erros
ortográficos e não ortográficos é que são reais, só deles posso me gabar, e me
cobrar, e me indispor, somente deles.
Errei tanto no meu penúltimo
relacionamento quanto errei no meu penúltimo texto, errei tanto no meu último relacionamento
quanto errei no meu ultimo texto, errei tanto e ainda errarei nos próximos. Não
é que eu não aprenda com os meus erros, é que eu sempre erro com o que me afeta,
me machuca, me alegra, me consola. Eu erro tanto, eu sinto tanto, eu imagino
tanto, eu finjo tanto, que todas as semanas eu escrevo um novo texto, mesmo
sabendo há tanto tempo que escrever é a coisa mais solitária do mundo, mesmo
sabendo ser egoísta dividir essa solidão com vocês, mesmo cometendo erros
ortográficos e não ortográficos, ah, eu erro tanto!?!?!?!? Tanto. Tiara Sousa
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