domingo, 9 de junho de 2013

Maria e João


“Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim.”

(Trecho de João e Maria de Chico Buarque)



Todos os dias Maria acorda, é assim que ela sabe que dormiu. Todos os dias ela toma banho, e veste-se, e calça as sandálias, e encanta-se com alguma coisa da natureza, como um pássaro, ou uma rosa, ou simplesmente o céu, e sente a presença incolor dele.
Todos os dias Maria nasce com o Sol e morre com a realidade, e todos os dias ela recebe ao menos uma ligação e dois olhares, que nunca são dele. Todos os dias ela fica ao menos cinquenta segundos no portão, esperando ele chegar, mas ele nunca chega.
Todos os dias ela canta ao menos meia canção, lê meia poesia, conta meia história, e lembra dele inteiro, cada detalhe do rosto, do corpo e da personalidade. Todos os dias ela encontra conhecidos, que desconhecem a dor que é para ela não tê-lo nem mesmo em sonhos, por que até os sonhos morrem com o tempo e a distancia.
Todos os dias Maria vive um quase romance sabendo estar próxima a data do fim, porque dentro dela nenhum romance é eterno, se não materializar-se nele. Todos os dias ela debruça sobre a almofada e faz-de-conta que é feliz.
Todos os dias Maria chora a ausência de João, e enquanto ela chora, ele faz alguma coisa que ela desconhece, em algum lugar que ela nunca está. Por que um dia João foi embora, e quando ele foi, fez Maria partir, partir de si mesma, partir em muitos pedaços, partir e não mais encontrar o caminho de volta. Tiara Sousa

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