Estive
pensando sobre a vida, eu sempre penso sobre a vida, não que eu goste, ou seja
um passatempo, é apenas inevitável e cotidiano, complicado e poético. Mas em
especial, dessa última vez eu pensei de uma perspectiva diferente da de sempre,
pela primeira vez, eu pensei que ela é injusta, que um dia, um dia que não
sabemos ao certo, isso fica óbvio. Pensei nisso porque um jornalista por quem
tenho grande apreço, o Mário Magalhães, passou, segundo ele próprio, dez anos
escrevendo a biografia do Marighela, que todos os que já leram dizem ser
maravilhosa, e escreveu uma carta resposta lotada de palavras cultas, embora comum,
ao Artigo sobre biógrafos, Penso eu, de Chico Buarque, aparentemente sobre
biógrafos. Lendo esse artigo e todas as delicadas e pesadas entrelinhas, eu li
mais sobre o ser humano do que sobre biografias, dádiva desse cantor, compositor
e escritor que eu tanto admiro, no fim das contas terminei o artigo, acendi um
cigarro e pensei, que droga de vida essa, o Mário Magalhães é mais que bom escrevendo,
é inteligente, culto, viajado, competente, mas se ele estiver certo, no fim das
contas não vai valer de muita coisa, porque lhe falta a dramaticidade, a
genialidade e a sensibilidade de Chico, porque quando Chico escreve, ainda que
seja sobre um balde, ele escreve carregando todas as dores do mundo, carregando
o mundo.__ Que droga de vida! O cara escreve uma biografia ótima, embasada e de
contexto histórico único, se utiliza lindamente de frases de efeito para a
carta resposta e só emociona ao citar o nome de duas canções de Chico, porque
só o nome dessas duas canções tem tristeza e alegria, suor e poesia, imoralidade
e caráter, tudo na mesma medida, porque só Chico é louco assim, enfim, que droga
de vida, dez anos escrevendo uma biografia, que segundo ele lhe trouxe prejuízo
e paixão, embora tenha sucesso, pra no final das contas ele escrever uma carta
resposta a um artigo e um mundo de gente constatar que não, ele nunca vai ser
Chico Buarque.
Mas
enfim, eu falava sobre a vida não é? A vida tem dessas coisas, talvez essa seja
a grande falha do mundo, a vida não é comunista, a vida não é democrática, a
própria ausência de lógica na vida já a impossibilita de ser justa. O Mário
nunca vai ser um Chico, não importa o quanto ele leia, sofra, estude, trabalhe,
se apaixone, ele nunca vai doer assim tanto a ponto de sangrar palavras, é isso
que Chico faz, ele sangra palavras, e eu no reduto do meu desejo mundano, vou
finalmente comprar o livro sobre Marighela, por que já li algumas coisas do
Mário e sei que vai ser muito bom, o foda, perdoem a expressão, mas é a que
cabe, é que logo no inicio da leitura desse livro eu sei que vou pensar na
primeira frase de Chico Buarque no seu artigo, “Pensei que o Roberto Carlos
tivesse o direito de preservar sua vida pessoal.”, pior ainda é que a cada
detalhe emocionante da vida do Marighela eu sei que vou lembrar de uma canção
de Chico, o mais triste de tudo é que eu vou terminar o livro e pensar, droga
de vida essa, eu também nunca vou ser Chico, não importa o quanto eu leia,
sofra, estude, trabalhe, me apaixone, porque quando ele escreve, ele carrega
todas as dores do mundo, ele carrega o mundo.
Sinceramente, eu não julgo o
Mário Magalhães, ele tentou. Escrever uma carta resposta a Chico foi corajoso,
eu não faria o mesmo, eu sou medrosa, antes mesmo de ler, escreveria. __ Ainda
que você esteja errado caro Chico Buarque de Holanda, sei que no fim das suas
linhas você terá razão, por que quando você escreve você rouba as razões da
humanidade com humanidade, portanto não me atrevo a contestar nada do que
escrever. E por fim aproveitaria uma parte da carta do Mario Magalhães, uma de
beleza incontestável, em que ele demonstra realismo e derrama poesia, aquela em
que ele cita as duas canções de Chico, ”Você
merece interlocutores do “tempo da delicadeza” evocado em “Todo o sentimento”.
Aceite um abraço e o carinho deste fã irrevogável.” Tiara Sousa
Para os que desejarem ler o Artigo e carta, eis os links:
Nenhum comentário:
Postar um comentário