sábado, 19 de outubro de 2013

PENSO EU – Entre biógrafos e gênios

Estive pensando sobre a vida, eu sempre penso sobre a vida, não que eu goste, ou seja um passatempo, é apenas inevitável e cotidiano, complicado e poético. Mas em especial, dessa última vez eu pensei de uma perspectiva diferente da de sempre, pela primeira vez, eu pensei que ela é injusta, que um dia, um dia que não sabemos ao certo, isso fica óbvio. Pensei nisso porque um jornalista por quem tenho grande apreço, o Mário Magalhães, passou, segundo ele próprio, dez anos escrevendo a biografia do Marighela, que todos os que já leram dizem ser maravilhosa, e escreveu uma carta resposta lotada de palavras cultas, embora comum, ao Artigo sobre biógrafos, Penso eu, de Chico Buarque, aparentemente sobre biógrafos. Lendo esse artigo e todas as delicadas e pesadas entrelinhas, eu li mais sobre o ser humano do que sobre biografias, dádiva desse cantor, compositor e escritor que eu tanto admiro, no fim das contas terminei o artigo, acendi um cigarro e pensei, que droga de vida essa, o Mário Magalhães é mais que bom escrevendo, é inteligente, culto, viajado, competente, mas se ele estiver certo, no fim das contas não vai valer de muita coisa, porque lhe falta a dramaticidade, a genialidade e a sensibilidade de Chico, porque quando Chico escreve, ainda que seja sobre um balde, ele escreve carregando todas as dores do mundo, carregando o mundo.__ Que droga de vida! O cara escreve uma biografia ótima, embasada e de contexto histórico único, se utiliza lindamente de frases de efeito para a carta resposta e só emociona ao citar o nome de duas canções de Chico, porque só o nome dessas duas canções tem tristeza e alegria, suor e poesia, imoralidade e caráter, tudo na mesma medida, porque só Chico é louco assim, enfim, que droga de vida, dez anos escrevendo uma biografia, que segundo ele lhe trouxe prejuízo e paixão, embora tenha sucesso, pra no final das contas ele escrever uma carta resposta a um artigo e um mundo de gente constatar que não, ele nunca vai ser Chico Buarque.
Mas enfim, eu falava sobre a vida não é? A vida tem dessas coisas, talvez essa seja a grande falha do mundo, a vida não é comunista, a vida não é democrática, a própria ausência de lógica na vida já a impossibilita de ser justa. O Mário nunca vai ser um Chico, não importa o quanto ele leia, sofra, estude, trabalhe, se apaixone, ele nunca vai doer assim tanto a ponto de sangrar palavras, é isso que Chico faz, ele sangra palavras, e eu no reduto do meu desejo mundano, vou finalmente comprar o livro sobre Marighela, por que já li algumas coisas do Mário e sei que vai ser muito bom, o foda, perdoem a expressão, mas é a que cabe, é que logo no inicio da leitura desse livro eu sei que vou pensar na primeira frase de Chico Buarque no seu artigo, “Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal.”, pior ainda é que a cada detalhe emocionante da vida do Marighela eu sei que vou lembrar de uma canção de Chico, o mais triste de tudo é que eu vou terminar o livro e pensar, droga de vida essa, eu também nunca vou ser Chico, não importa o quanto eu leia, sofra, estude, trabalhe, me apaixone, porque quando ele escreve, ele carrega todas as dores do mundo, ele carrega o mundo.
Sinceramente, eu não julgo o Mário Magalhães, ele tentou. Escrever uma carta resposta a Chico foi corajoso, eu não faria o mesmo, eu sou medrosa, antes mesmo de ler, escreveria. __ Ainda que você esteja errado caro Chico Buarque de Holanda, sei que no fim das suas linhas você terá razão, por que quando você escreve você rouba as razões da humanidade com humanidade, portanto não me atrevo a contestar nada do que escrever. E por fim aproveitaria uma parte da carta do Mario Magalhães, uma de beleza incontestável, em que ele demonstra realismo e derrama poesia, aquela em que ele cita as duas canções de Chico, ”Você merece interlocutores do “tempo da delicadeza” evocado em “Todo o sentimento”. Aceite um abraço e o carinho deste fã irrevogável.” Tiara Sousa
Para os que desejarem ler o Artigo e carta, eis os links:

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