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É
Sábado, 18 de fevereiro de 2017, e Verissa disse que tá triste, muito triste,
triste assim de um vazio imenso, melancólico, profundo, utópico, fantasioso,
quase real. Eu disse a ela que tô mais fudida do que ela e comecei a recitar
todos os meus problemas, ela nem estranhou a minha reação, me conhece tão bem
que já espera esse tipo de coisa, sabe que eu sou presunçosa, pretensiosa, presumida, imodesta, arrogante, metida,
esnobe, vaidosa, egocêntrica, enfatuada, afetada, cabotina, todos esses
sinônimos, e ela sabe que mesmo na tristeza profunda melancólica vazia e chata
dela eu iria dar um jeito de ser a protagonista, nem que pra isso eu tivesse
que discursar minutos a fio sobre as mazelas da minha vida.
Perguntei a Verissa o motivo de tamanha
tristeza, ela disse que era uma tristeza assim desmoronante, e que ela não
conseguia encontrar um motivo pra ela, eu lembrei de um seriado antigo,
monótono e infantil que eu assisti há uns anos e depois assisti novamente e
provavelmente ainda irei assistir mais algumas vezes, porque ele filosofa e é
triste e é inerente aos incomuns, então logo a questionei se não era algum
seriado que ela tava assistindo, ela disse que não, e naquele momento detestei
o fato de não conseguir explicar a tristeza dela mais do que detestei o fato de
ela estar triste, talvez porque na minha mente insana fossem a mesma coisa,
então me empenhei na missão infantil e tola de encontrar o motivo daquela
tristeza, porque eu gosto de ter as respostas e porque se não as encontrasse, iria
ter que admitir que num mundo de tantas guerras e fomes e dores e injustiças e
corações partidos ainda existem tristezas sem motivo, e eu não queria pensar
assim, porque se eu pensasse assim iria doer em mim, e eu amo detestar dores generosas.
Então depois de muito pensar e refletir
longamente por uns 30 segundos, anunciei a ela que eu já sabia o que havia
sido, e eram os três dias que ela estava sem me ver, que a minha ausência
infame causa esse efeito nos meus amigos, e que ela ficasse melhor que logo
iria me encontrar. Mas ela respondeu: kkk, e eu fiquei puta, Verissa poderia
ter dito... É mesmo Tiara, deve ser saudade de ti, mas ela tinha que conseguir
com três letras dizer que não era a minha ausência e ainda tirar uma onda com a
minha cara, e eu pensando que os meus amigos se contorciam de saudade com a falta
das minhas infinitas distorções de tudo. Mas eu não desisti tão fácil, Verissa
não é de se abrir muito e se ela falou que tava triste, triste assim como uma
fotografia démodé de uma artista vintage, era porque tava mesmo, e eu precisava
de um porque, talvez mais que ela, afinal se eu ficasse intima da tristeza dela
eu poderia sentir com ela, e quem sabe até sentir por ela, e nisso eu não tava sendo
egoísta, eu acho.
Então comecei a dar minhas versões mirabolantes
do que teria causado aquela tristeza, porque se não era seriado, e não era a
minha ausência, tinha que ser alguma coisa. Meus palpites foram, a sociologia,
ela disse que não, então falei se não seria falta de guloseimas, ela disse não,
comi lasanha mais cedo, fiquei puta novamente, eu tinha comido torrada enquanto
ela comia lasanha e não tava triste assim, que porra de tristeza poderia ser
essa, nem perguntei se era algum cara, se não tava triste por falta de fast
foods não era um homem, por mais gato, inteligente e viril que fosse que iria
deixa-la assim. Minha cabeça já tava rodando, então resolvi dar conselhos do
que não fazer quando se está triste, porque eu já fiquei triste assim, assim de
doer na clavícula e sair nos olhos, assim de 7 a 1 em cima do Brasil em plena Copa
do mundo, assim de cheirar a roupa do ex procurando pelo ex, assim de escovar
os dentes querendo dormir e dirigir querendo dormir e transar querendo dormir e
sorrir querendo dormir e até dormir querendo dormir, então certamente meus
conselhos deveriam valer de alguma coisa, e eu comecei... Primeiro, saia, evite
ficar em casa, a nossa casa é um lugar tão nosso que lá ser triste é mais fácil
do que ser feliz; Segundo, não assista, ouça ou leia nada profundo, nada que te
emocione, que te faça refletir; E finalmente... Terceiro, coma doces, o doce
engorda, estraga os dentes, causa doenças, mas não existe nada mais eficaz do
que eles nessas horas, ela disse então que já tinha feito tudo isso, mas que a
tristeza continuava ali, na cabeceira da cama e na cama, na escrivaninha e na
TV, no edredom e no furo no vestido velho, na saliva amarga e no amargo de tudo,
e como eu tenho o hábito de visualizar todas as coisas que me dizem em cenas esdrúxulas,
de repente eu pude ver a tristeza de Verissa, e mesmo eu soando assim tão
insensível aos olhos comuns, eu pude senti-la por dois segundos e meio, e foram
os dois segundos e meio mais abomináveis desde 1985.
Porque a tristeza de Verissa não deveria ser
dela, dela não. Ela vê o mundo cor de rosa, por isso ela tem aquelas
tranqueiras rosas espalhadas por todo o quarto, é a bruta mais doce que eu
conheço, e ninguém no mundo é encantadora e irritadoramente mais inconstante do
que ela, pois só ela sabe ser Caetano Veloso na segunda e Wesley Safadão na
terça com a mesma paixão e empenho, sabe detestar gente e amar ir ao bumba meu
boi, sabe acordar na sua linda casa no Calhau e dirigir até o Anel Viário pra
tomar café da manhã, e quem mais além dessa moça é tão convencida a ponto de
citar Freud como se estivesse citando um colega de turma, e tem milhões de
partes dela que são só dela e que ela jamais vai dividir com ninguém, e gente
assim não deveria ser triste nunca, nem mesmo nos sábados a noite quando todo
mundo fica meio triste, nem mesmo sem motivo, nem mesmo assim.
Mas claro que eu não disse nada disso a ela, eu
poderia ter dito, mas aí como iria ficar minha velha e boa fama de má, então
não disse nada, liguei cinco minutos depois e perguntei se não eram gases, ela
sorriu, e certamente me conhecendo como só amigas se conhecem, entendeu que
aquela era a minha maneira de dizer... Conta comigo, tô aqui pra ti, eu posso
ser presunçosa, pretensiosa, presumida, imodesta, arrogante, metida, esnobe,
vaidosa, egocêntrica, enfatuada, afetada, cabotina, todos esses sinônimos, mas
na tua tristeza eu serei sempre protagonista pelos motivos nobres, porque ela
também é minha, e eu daria tudo (menos meu carro, meu notebook novo, meus
vestidos acima de 200 reais, meus livros, meus CD’s, minha TV e principalmente aquela
pulseira de palha que tu trouxeste da Colômbia pra mim) pra ser mesmo apenas gases
e passar logo. Tiara Sousa
2 comentários:
Puxou ao pai embora não o ame.
É nega....tu é foda! Xeruuuu!!!
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