domingo, 1 de outubro de 2017

NUDEZ – Sobre a interação de criança com artista nu em MAM

Imagem do site Paraná Online
Ele nasceu nu, nu de corpo, nu de alma, nu de nu. Nus nós nascemos, e assim conseguimos permanecer por um tempo, mas o primeiro choro, o primeiro riso, a primeira palavra, a primeira peça de roupa vai nos cobrindo, vai nos poupando de nos encarar e encarar o outro sem os modos convencionais, a educação formal, o refinamento, o estilo construído, a superficialidade. Nós só nos cobrimos pra esconder os males aos quais o mundo nos introduz, os padrões inalcançáveis, preconceituosos e rasos que nos são impostos, a vergonha que nos é ensinada e nunca natural, e a Arte quer desconstruir tudo isso. Pois a Arte não quer cobertas, a Arte derruba as cortinas, a Arte fala mal dos confinamentos, a Arte é livre. Não sei o que chamam de maldade, de pedofilia, de fim da infância, não sei, porque o meu coração é comunista, habita na foice e no martelo, tem sede de igualdade, ás vezes ladra, ás vezes é mordido, não entende de moralismos, entende de moralidades. E a minha moralidade diz que a nudez é só nudez, tocar alguém nu, olhar alguém nu, não desperta por si só líbidos, um pênis é apenas um pênis, todo homem tem, todo bebê do gênero masculino tem, toda criança do gênero masculino tem, todo o resto é equívoco de mentes promiscuas, de ignorâncias, de influenciadores que tentam e ás vezes conseguem convencer que um corpo nu é mais do que apenas um corpo nu.
Aproveitem esse nosso tempo, esses novos tempos e essa quantidade de informações que nos é derramada por segundo, e desconstruam e desprendam-se da ideia de que a nudez é promiscua, não é, não tem que ser, a promiscuidade mora em certas mentes, a nudez é só um corpo despido, nada mais. Não tentem destruir infâncias com as suas ideias tolas, ignorantes, preconceituosas e infames. Por favor, meu filho frequenta redes sociais, então tomem cuidado com o que falam e como julgam, não destruam a infância do meu filho, dos seus filhos, dos filhos dos seus amigos dizendo a eles que um corpo nu é mais do que um corpo nu, não é, você tem um corpo nu, eu tenho corpo nu. Atos de natureza sexual, atos promíscuos, pedofilia, abuso é outra coisa.
Vocês, educadores, artistas, trabalhadores braçais, estudantes, façam um favor a vocês e a sociedade, não comprem essas ideias equivocadas que castram a Arte, que castram as infâncias, que transformam momentos puros e nus em ideias erronias de orgia. Estudem, leiam, enxerguem, ouçam, desenvolvam, conheçam, o fato de alguém estar nu não significa que há algum ato libidinoso, nudez é só um corpo sem roupas. Se é Arte ou não é, decidam, se apreciam ou não, percebam, se lhes toca ou não, questionem, mas tenham a certeza que não há promiscuidade num corpo despido de roupas, estejam certos que a promiscuidade está em vossas cabeças ignorantes e influenciáveis, e lembrem-se, a Arte é livre inclusive da maldade e das intenções duvidosas de quem a interpreta de modo incompleto e incoerente.
Há alguns meses dirigi um monólogo cujo o ator despia-se completamente em uma das cenas, infelizmente no dia da apresentação meu filho tinha aula e não pôde comparecer, mas ele assistiu ao ensaio geral, e assistiu outras apresentações artísticas com nudez, e a infância dele está intacta, lúdica, bela. Sabe porque? Porque ele nasceu nu, eu nasci nua, você nasceu nu, quando tomamos banho ou nos trocamos, ou nos secamos estamos nus, e nenhum desses atos tem natureza sexual. São apenas corpos. É apenas nudez. Tiara Sousa




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