Fazia um tempo que eles não
se viam, e voltando a se ver pareciam estranhos (adoráveis estranhos), mas o
romantismo tem dessas peculiaridades, o amor é singular sempre, não importa que
esteja em todas as canções, textos, poemas, o amor é singular ainda que seja de
uma pluralidade absurda.
Ela não sabia que ele
estaria naquele lugar, ele também não sabia que ela iria, ela apenas teve a
impressão de que aquela noite estava menos vazia do que as outras e que as
estrelas pareciam querer dizer alguma coisa. Ele também não esperava que ela
aparecesse, já estava tão acostumado com a rotina, com o previsto, que quando a
viu entrar pelo salão sentiu seu coração acelerar e ficou nervoso como um
adolescente apaixonado, é incrível como os momentos mais lindos, podem também
ser os mais desconfortáveis, mas aquele desconforto era de alguma maneira uma
constatação de que ainda que o tempo e a distancia façam certos sentimentos
adormecerem, eles ainda estão lá, como uma bomba relógio prestes a explodir.
E então eles se olharam, num
misto de surpresa e incomodo, numa união exata de excitação e dúvida, e
enquanto eles se olhavam o mundo parou, nem ele, nem ela sabem ao certo quanto
tempo durou aquilo, porém sabem que enquanto se olhavam, era devolvido a eles tudo
que a vida, as dores, os anos, as decepções haviam lhes tirado, recuperavam
ainda que brevemente a ingenuidade, a nobreza, a inocência. Haviam outras
pessoas além deles naquele lugar, algumas delas estimadas e que faziam parte de
suas vidas, mas enquanto se olhavam não viam mais nada, não pensavam em mais
nada, só se sentiam completos, e isso é mais do que muitos já chegaram a sentir
durante toda a vida.
Então ambos pensaram no
porque de ser errado se permitirem amar-se, se parecia tão certo, ambos estavam
presos a conveniências, ética, obrigações, que transformavam um sentimento tão
puro num romance improvável.
Ele sabia o que tinha que
fazer, ele deveria esquecê-la cada vez que a visse, ele deveria, mas não era o
que ele queria, ele queria tê-la em seus braços, ele queria acordar ao lado
dela, ele queria desvendá-la e torná-la intima de seus defeitos e qualidades,
ele queria amá-la todos os dias, ele queria, mas não deveria, ele não deveria.
Ela também sabia o que tinha
fazer, ela deveria esquecê-lo cada vez que o visse, ela deveria, mas não era o
que ela queria, ela queria se jogar em seus braços, ela queria acordar ao lado
dele, ela queria desvendá-lo e torná-lo intimo de seus defeitos e qualidades,
ela queria amá-lo todos os dias, ela queria, mas não deveria, ela não deveria.
Então eles se abraçaram,
numa despedida injusta e obscena, tão injusta e obscena quanto a
impossibilidade de eles viverem aquele romance. E ela foi embora daquele lugar
enquanto ele ficou lá parado, ambos inconformados, ambos sedentos, ambos
invadidos, ambos sós, ainda que acompanhados, ambos morrendo de um desejo tão
pecaminoso quanto sacro de correrem um até o outro e se despirem, se tocarem,
se amarem, como se não houvesse nada mais no mundo além da vontade de ambos, a
vontade de se entregarem um ao outro como se estivessem entregando-se a si
mesmos, numa sintonia profunda e profana que lhes trariam uma paz necessária.
Porém eles não seguiram os seus instintos, a realidade
dos dois não lhes permitiu tal atitude, eles apenas comportaram-se como
adoráveis estranhos, depois chegaram em suas casas e fingiram esquecer, por que
era isso que eles deveriam fazer, não era o que eles queriam, mas era o que
eles deveriam, e foi o que eles fizeram. Tiara Sousa
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