Depois de um jantar,
ou seria de uma pizza, ou de uma balada, ou de um barzinho, ou de dois
beijos(um comportado e um legítimo), ou de um abraço prenunciando a química, ou
de uma meia conversa preservando o mistério, ou de alguns encontros desvendando
a personalidade, ou de um momento de liberdade assegurando o encanto, ou de um
terceiro beijo acompanhado por mãos desacatadas de consciência revelando o
desejo... Depois de algumas dessas coisas, ou de todas elas, ou de alguma outra
coisa, eis que o homem pergunta: Na minha casa ou na sua? E eis que a mulher responde...
Essa
é uma proposta indecente, pois pode ser na minha ou na sua, tanto faz, porque se
nós tivermos química (e eu suponho que temos) e se você permanecer encantador
aos meus olhos (e eu suponho que permaneça), eu, sendo um ser sentimental como
sou, romântica em cada uma das minhas sensações físicas e insipida de
racionalidade, vou transformar tudo num conto antes mesmo do desenvolvimento da
história. E assim sendo, na minha casa ou na sua, saiba, eu vou te adorar, cada
parte do teu corpo, cada traço da tua face, um ou outro, muito provavelmente
todos os seus gestos, vou te comprar presentes bobos e não olhar para os lados
em que você não estiver, vou abrir meu coração, minha mente, minha alma,
defeitos e qualidades junto com as minhas pernas, vou te ligar cem vezes pra te
sentir um quinto meu como eu me sinto tua, vou querer todos os teus olhares e
abraços, e sentir ciúmes do vento e do acaso, de outras mulheres e do passado,
isso faça sentido ou não.
Não
satisfeita, interpretarei tudo de concreto como abstrato, em pouco tempo vou
esquecer peças de roupas na tua casa, e cheirar as tuas roupas a procura do que éramos quando nos vimos pela primeira
vez. Cometerei loucuras privadas pra
me fazer publicamente tua, vou comprar cada vez saias mais compridas e lingeries menores só pra te agradar e
todos os minutos distante de você irei sentir a tua perda em mim.
Mas
eu não tenho limites, todo romantismo e exagero ainda será pouco, refém da
minha incapacidade de ser realista e comedida, vou brigar, vou sentir tanto
medo de perdê-lo, vou me vestir pensando em como você vai me despir e
transformar cada instante longe num martírio.
Mas
você não vai valorizar nada disso, vai fazer pouco dos meus sentimentos e dizer
que eu te sufoco, que eu sou muito ciumenta e não sei me comportar, vai fazer
pouco das minhas conquistas, e achar que eu te traio com cada cara com quem
converso, e eu vou sofrer e sofrer e sofrer... Até que um belo dia vou cair em
mim, e perceber que eu exagerei e fantasiei tudo em você, irei me dar conta que
você é um homem comum, como tantos que passam por mim na rua e que nem
despertam meu interesse, então irei me desculpar por todos os meus exageros que
não são somente meus, mas próprios do gênero feminino e terminar tudo, vou sair
da sua vista, da sua agenda, da sua cama, da sua vida, e finalmente vou entrar
na sua cabeça, daí é você quem exageradamente vai gostar, e se apaixonar e amar
cada um dos meus exageros, mas será tarde demais, eu já estarei exagerando em
outra freguesia. Então vou nos poupar esse sofrimento, pois é prejudicial a
saúde física e mental, e nenhum de nós merece isso, portanto... Nem na minha
casa, nem na sua!
Depois de todo aquele
discurso e possíveis previsões, o homem então a olha com admiração e ainda mais
desejo, completamente encantado pela inesperada sinceridade pessimista, talvez
realista, e muito provavelmente experiente daquela mulher e diz: - Mas e se nós
pularmos essa etapa da proposta indecente e formos logo para a proposta
decente. E exageradamente ele propõe:
Que tal na nossa, na nossa casa? Ela
então sorriu admirada, descobrindo que mesmo quando já se supõe saber de tudo,
ainda se é pego de surpresa, então ela exageradamente aceita, não pelos sonhos
de juventude, ou pela inexperiência de outros tempos, nem mesmo por achar que
ele é perfeito, mas pela ousadia, coragem e loucura daquele homem capaz de
surpreendê-la. E eles então pularam todas as etapas, desfizeram-se de tudo o
que era previsível... Foram julgados e mal falados por todos aqueles que não
tiveram a ousadia de gostar sem meio termo, meias palavras, meios planos, ah se
todos vivessem seus romances assim, sempre pela primeira vez e sempre como se
fosse a última, talvez os fins doessem menos e os começos durassem mais... Ah e
antes que eu esqueça, devo informar-lhes que sim, eles foram exagerados para
sempre... Tiara Sousa
Um comentário:
Eita...caramba...Amei, como sempre!!!
Bom saber que já está assim..rsrs... É sempre bom o sabor da surpresa..toda incerteza só gera mais amor, mais paixão...tudo é ilusão, fantasia, com pitadas de realidade e covardia de seguir na contramão, mas seguimos.!!!
Abraços...até!!
Postar um comentário