domingo, 21 de setembro de 2014

MOÇAS

Direitos da imagem: Blog Maaxpaiin
Certas palavras nos matam. Certos olhares nos partem ao meio. Certos desejos nos constrangem. Somos assim... Moças, em essência.
Aprendemos a fingir, fingir que estamos bem pra não incomodar, fingir alegria pra não entorpecer os ambientes, fingir orgasmos pra não insultar egos. Aprendemos a fingir pra parecer menos humanas pra humanidade, sempre tão desumana em seus julgamentos. E enquanto a lua desfila pelo céu, entregamos nossos corações.
Brigamos por nada, mas é que nada também sabe doer, nada é coisa demais. Nos habituamos a ser conduzidas, nos realizamos com olhares puros que não nos foram concedidos. A nossa cor é rosa, porque é assim que vemos o mundo. Cheio de borboletas e luzes e corações e flores... E duendes e fadas.
Sofremos, porque carregamos a força de todas as rochas e a fragilidade de todos os vasos de flores. Somos assim... Moças, em essência.
Choramos nos filmes românticos, caminhamos pelos poemas de Camões, nos inflamamos nos romances de Nicholas Sparks, nos envolvemos nas canções de Chico. Não temos meio termo, entramos inteiras nas histórias, nos despedaçamos nas desilusões.
Sabemos ser doces, e ter pele. Sabemos usar nossas curvas, e ter sonhos. Conhecemos o idealismo e tememos a realidade. Sabemos ter pureza fazendo amor e ter sede simulando infinitos.
Entendemos da dor, a dor é como um retrato em preto e branco, eternizado por um sorriso ou uma pose forçados, insuperável imagem, e depois dela a constatação triste e cínica de que nunca mais aquela pose, aquele sorriso forçado, aqueles traços e linhas e luzes. Somos assim... Moças, em essência.
Superamos os fins dos pra sempre. Superamos o adeus e o até logo. Mas guardamos as cicatrizes, relembramos as histórias, nos tornamos maiores depois das lágrimas. Porque enquanto choramos e sangramos decepções, arcamos com as fomes do mundo. Arcamos com o mundo. Arcamos com a fantasia.
Devolvemos em cuidados e recatos e graça toda a dor que recebemos. Porque somos sensíveis como as rebeldes cores de Frida Kahlo, e sentimos tanto, que conseguimos abrir os olhos e ver o mundo de um jeito que nem se vê mais, como um dia já viram as mulheres de Atenas.
Desacatamos o recato com bons modos, nos conformamos com menos do que sonhamos, sempre menos, nos perdemos em libidos sentidas no corpo e na alma. Mais na alma. Exageramos sempre ao amanhecer, reclusas a sorrisos que nunca são completos. Somos assim... Moças, em essência.
Rosas de aço, bonecas de vidro, paisagens vivas, tão vivas. E no fundo, por dentro do aço, além do encanto e do mistério, dos papos reveladores e feministas, das danças e da leveza, dos sussurros, insanidades, atos impensados, punições e gemidos, ainda somos, ainda sempre seremos aquelas meninas, aquelas belas e tolas e tontas meninas dos olhos dos nossos pais.
Mas nunca esqueçam rapazes, que mesmo quando já conhecemos o sofrimento, quando já estamos intimas da dor, quando já aceitamos a realidade, quando já fomos feridas em graus incomparáveis, quando já aprendemos a contestar os olhares julgadores. Mesmo assim, ainda somos moças, as quais certas palavras matam, certos olhares partem ao meio, certos desejos constrangem. E seremos assim, aos 8 ou aos 80... Moças. Em essência. Tiara Sousa.

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